Francisco Nery Júnior: Bolsonaro de cuia na mão – a falência do Brasil

Um dos grandes legados dos romanos foram os ditos. Um deles assegura que a repetição é a mãe dos estudos. Outro dito, de uma sábia contemporânea que viveu cento e cinco anos e meio, assevera que “sem o danado do dinheiro não se faz nada”. Dinheiro, sabemos todos, significa – ou representa – a produção de um sistema econômico. Não existe poço de dinheiro nem emissão pela Casa da Moeda sem geração de inflação.

Para o bem do leitor, repeti dois ditos e repito que a falência fiscal do Brasil tem sido prevista nesta coluna há mais de dez anos. “É intuitivo”, costumava dizer o professor Hercílio Arandas. “A gente está vendo que vai acontecer”, repetia a sábia senhora do primeiro parágrafo. Então, nada de pretensão a guru, nem a iluminado. A falência do Brasil se apresentava como líquida e certa.

Estamos falidos. A afirmação é de um dos senadores mais sérios e experientes desta legislatura; empresário de sucesso no Paraná e economista de formação. O senador Oriovisto Guimarães, do PODE, sabe o que está dizendo. Falimos. A mais recente conta a pagar, como sempre pelos mais fracos, é a chamada Reforma da Previdência. Leia-se corte de direitos adquiridos.

O presidente Jair Bolsonaro deixou o país num momento bastante delicado para um giro de 12 dias com a cuia na mão estendida para os poderosos do mundo. Tenta atrair investimentos em regime de parceria. Toda riqueza gerada pela nona economia do mundo, a nossa, não é suficiente para o custeio. O déficit é coberto pela emissão constante de títulos públicos. Em outras palavras, coberto por mais endividamento. Não sobra dinheiro para investimento.

A saída imaginada pelo presidente – há que haver uma saída – é a venda de estatais e a entrada de capital estrangeiro. Ele afirma que nenhuma das duas opções é agradável e reconhece que o remédio é amargo. Vai além e condiciona que o efeito só será positivo se medidas outras duras e impopulares forem adotadas. A reforma da Previdência terá sido apenas o começo.

Por outro lado, gostaríamos que o senhor presidente acenasse com algum gesto de grandeza digno de um estadista. Poderia cortar alguma coisa na própria carne e na carne dos empoleirados ou apaniguados. O povo entenderia e certamente o seguiria. Vamos reconhecer que as desigualdades no Brasil são, no mínimo, indecentes. Poderia, no seu estilo, tentar um grande golpe. Afinal, já foi dito que as grandes realizações do mundo são devidas aos paranoicos. O povão, a plebe, a massa agradeceria.

Nada melhor para angariar a lealdade de um povo que a renúncia à própria mordomia ou ao amor próprio. Acabo de testemunhar dois belos exemplos: um na França e outro na Itália. Na França, a aplicação das chamadas emendas parlamentares é decidida por uma comissão da localidade escolhida pelo parlamentar. O deputado escolhe o destinatário, mas a comissão local decide a prioridade. E na Itália, quem diria na Itália, tramita no parlamento, em estado adiantado, projeto de redução substancial do número de deputados e senadores. No Brasil, como conquistar a confiança do povo, como conseguir apoio para cortes de direitos adquiridos quando o Congresso Nacional gasta em torno de um bilhão de reais por ano apenas com carros e motoristas para deputados e senadores?

Abrimos parênteses para comunicar que o senador Rodolfe Rodrigues, do Amapá, está recolhendo assinaturas dos seus pares para apresentar proposta de emenda constitucional para a redução do número de deputados e senadores. Seriam cerca de 300 deputados e 54 senadores (hoje 513 deputados e 81 senadores). O apoio da população é fundamental.

Elegemos Jair Bolsonaro presidente e o respeitamos como tal. Ele tem toda a legitimidade para governar. O que esperamos é que aproveite o momento em que a massa parece estar levedada, e, como líder legítimo, proponha medidas que possam diminuir a desigualdade e eliminar as mordomias imorais que existem no nosso país. Seria um bom começo para a solução da crise fiscal profunda do momento. Que, com a ajuda de assessores competentes, verifique que líderes sinceros, honestos e despojados conseguiram unir o seu povo e tirá-lo da beira do precipício. Como Mahatma Gandhi, Wiston Churchill, Nelson Mandela e Getúlio Vargas, dentre outros, pode ficar eternamente no coração dos brasileiros.

Francisco Nery Júnior