Reunidas durante mais de cinco horas, na Federação dos Bancários, lideranças do PCdoB demonstraram, sábado,7, a dimensão das fissuras que ameaçam a articulação da chamada frente de esquerda, para composição de chapa rumo à sucessão municipal na capital baiana. O partido decidiu afastar-se da pré-candidatura do deputado federal Walter Pinheiro (PT) e manter no tabuleiro o nome da vereadora Olívia Santana (PCdoB). Essa reação decorre do movimento que acaba de conduzir a presidente estadual do PSB, deputada federal Lídice da Mata – que abriu mão de sua pré-candidatura a pedido do governador Jaques Wagner – à vaga de vice na chapa liderada por Pinheiro.
A insatisfação e o mal-estar vividos pelo PCdoB nas últimas 48 horas foram relatados por dirigentes da legenda (Péricles de Souza, presidente estadual, e o deputado federal Daniel Almeida, vice-presidente) ao governador, na última sexta-feira. Transmitida detalhadamente aos participantes da reunião de sábado, na Federação dos Bancários, nos Aflitos, essa informação foi como uma senha que faltava para lideranças comunistas revelarem seu elevado nível de descontentamento com o método de atuação dos aliados petistas.
Ao comentar o desfecho da reunião de sábado, Daniel Almeida afirmou que agora é preciso repensar o pacto dos partidos de esquerda na capital baiana. “Critérios adotados em Salvador se refletem em todo o estado”, situou o parlamentar. “O PCdoB é o segundo partido desse bloco, o que requer respeito e valorização. Uma decisão sobre a formação da chapa jamais poderia ignorar a expressividade do PCdoB”, complementou.
Estranheza – A indignação exposta pela direção partidária também permeia as declarações da pré-candidata à prefeitura de Salvador, vereadora Olívia Santana. “Nos causou enorme estranheza o acordo bilateral PT-PSB”, assinalou. “O PCdoB não é coadjuvante nesse processo. Foi o primeiro partido do bloco de esquerda a romper com o governo João Henrique (PMDB), por considerar que existe esgotamento daquele modelo de gestão”.
Ela lembrou que, desde julho de 2007, o PCdoB atua na defesa do seu nome para a sucessão de outubro próximo. Segundo a vereadora, injustificável, portanto, que o partido tenha sido apenas comunicado da decisão tomada entre PT e PSB. “Está errado o método utilizado para a formação da chapa”, sentenciou.
Com isso, as lideranças do PCdoB decidiram ontem partir para o fortalecimento da pré-campanha de Olívia Santana, agregando a participação mais efetiva de técnicos e parlamentares (Alice Portugal, Daniel Almeida, Javier Alfaya, Álvaro Gomes e Edson Pimenta). A agenda da pré-candidata será intensificada e prosseguirá com a realização do ciclo de debates sobre temas municipais. Educação é o tema do próximo painel de discussão que acontece no dia 13, no Hotel da Bahia.
Ficou definido, ainda, que a direção partidária conduzirá articulações, a fim de identificar nomes para a vaga de vice. Em nota divulgada no final de tarde de sábado, o partido registra todos os sinais do abalo vivido nos últimos dias: “O PCdoB sempre teve papel destacado na construção de frentes políticas que levaram à eleição do presidente Lula e do governador Jaques Wagner”, pontua a direção municipal da legenda. “O partido conta com dois deputados federais, três estaduais e quatro vereadores, atuação nos movimentos sociais e militância aguerrida, suficiente para deslanchar uma campanha eleitoral”.
Ao redigir a nota, no entanto, a direção partidária preferiu manter aberta uma janela para eventual diálogo: “Ao lado da manutenção da candidatura, o PCdoB reafirma os esforços para que o campo democrático se aglutine, se possível ainda no primeiro turno”.