15 de outubro de 2024

Leite in natura ou pasteurizado? Qual você escolhe?

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Realmente é uma grande preocupação a questão do leite in-natura, mas vamos analisar o processo que esse leite passa: Depois de fazer suas necessidades fisiológicas (sem lavar direito as mãos, ou quando lava), o vaqueiro se dirige ao meio do curral lotado de fezes, e lá pega aquele banquinho que há anos fica pendurado numa estaca; em seguida pega o baldinho que usa pra tudo para por o leite; amarra o bezerro na frente da vaca com a corda que se arrasta pelo estrume do curral; em seguida, cospe nas mãos ou usa a urina da própria vaca para lubrificar o ubre da leitosa, para depois enxugar com a crina do rabo da vaca; coloca as mãos ali e ordenha; depois transfere para outra vasilha maior e vai misturando o leite de dezenas de vacas.


 


Isso deve ser por volta das 5h da manhã, e apenas às 9h ou mais começa a ser revendido nas ruas com medidas de lata de óleo que insiste ir ao chão sempre que vai pegar no dinheiro do cliente. Ou seja, se passaram 4 horas desde a ordenha e não teve nenhum procedimento de higiene ou cuidado com a saúde do animal, e resfriamento nem se fala.


 


E assim, milhões de bactérias fazem a festa dentro do balde, até que chega a dona de casa e põe para cozinhar, e quando levanta a fervura já desliga pra não sujar o fogão (quando dá tempo). Não sabe ela que o leite já levanta fervura antes dos 100° graus necessários para matar as bactérias patogênicas.


 


Sei destas etapas, pois meu pai foi criador de gado e assistir várias vezes estas cenas e achava tudo muito normal, até que fui juntamente com cinco pessoas intoxicado gravemente por uma bactéria produzida no manuseio do leite, que por pouco não nos matou, mas deixou seqüelas. Sem a ordenha e o transporte do leite de maneira correta, as pessoas estarão sujeitas a contrair doenças como brucelose, crupe e infecções intestinais gravíssimas e o desenvolvimento de outra série de problemas gerados pelo leite de má qualidade vendido livremente há anos.


 


Esta questão do leite in natura de Paulo Afonso não é de hoje. Há uns 10 anos vem se batalhando para que os produtores se organizem para o beneficiamento do leite, e sempre tiveram a complacência dos políticos para adiar, visto que, para beneficiar teriam que vender o leite a um preço bem menor do que o conseguido na venda direta na rua.


 


Neste tempo, Paulinho de Deus montou seu laticínio e batalhou muito para que o leite pasteurizado fosse acessível a todos, mas foi vencido pelo mercado irregular do leite in natura, e da mesma forma o seu sucessor no negócio.


 


Outros fabricantes de Sergipe e Alagoas tentaram pôr o leite pasteurizado aqui no mercado, mas também foram frustrados. Não entendo como pessoas que durante tanto tempo foram ligadas a Paulinho de Deus, hoje se opõe ao beneficiamento do leite, que gerará saúde para a população, e que ele tomou prejuízos por conta desta irregularidade.


 


Se tiver culpado nesse processo todo, foram aqueles que passaram a mão na cabeça dos produtores que relaxaram e nunca se preocuparam com a qualidade dos produtos que vendem a população, pois tiveram tempo suficiente para organizar essa cooperativa e beneficiar o leite. O valor seria compensado pelo volume de vendas. Para quem não sabe, existem várias empresas que compram leite na região: Tem comprador em Delmiro Gouveia, em Canindé do São Francisco, em Jeremoabo, e aqui em Paulo Afonso tem dois pasteurizadores, o Bom Jesus e antiga fábrica de Paulinho de Deus no Jardim Bahia. Também estará sendo inaugurada em breve, pois já está em fase final, o laticínio de Xingozinho. Ou seja, não faltará mercado para se vender o leite.


 


Quanto ao queijo de coalho e de manteiga vendido sem certificação, é preciso maior empenho dos produtores e junto ao órgão gestor, a ADAB, e buscar aprimorar o processo, e assim como foi feito em Minas, melhorando as condições de higiene e produzir um queijo de qualidade, que o certifique pelo menos a vendê-lo no mercado local, desde que também dentro das normas de higiene para venda.


 


Lanço aqui um desafio: que tal, aqueles que não concordam com a proibição da venda do leite in natura e queijo de coalho artesanal fazerem um teste em alguns lotes de queijo e leite in natura, e depois de verificar a presença de bactérias patogênicas (ou não) e o que elas causam na saúde humana, saber se eles ainda vão querer degustá-los? A ação da promotoria e da vigilância foi correta.


 


Agora é preciso que os políticos e, principalmente, os produtores agilizem o processo para a criação da cooperativa de beneficiamento do leite, ou pelo menos, uma unidade de resfriamento para que o venda às indústrias já consolidadas, pois este é um mercado que tem se estreitado muito, e apenas os melhores permanecem. Ah! Eu trabalhei durante um ano, em laticínios em Sergipe e acompanhei bem o que um processo de beneficiamento, e também a satisfação dos produtores em terem garantido a venda do seu leite, que era pego diariamente sem custo extra para o mesmo.


 


Precisamos exigir mais fiscalização para outros itens também, que são vendidos livremente em nossas feiras, nos supermercados, padarias, ou chegam a nossas torneiras, sem a preocupação dos seus produtores e da fiscalização.


 


Nunca serei contra os pequenos produtores, mas eles precisam entender que o que era bom há anos atrás, hoje não se aceita mais, e por isso é preciso avançar e se enquadrar nas normas que querem apenas manter a saúde do povo. Se esforcem mais neste sentido e daqui há pouco tempo vocês vão agradecer esta interferência e ajudar a desenvolver o nosso município.

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