26 de julho de 2024

Paulo Afonso e a Região Integrada de Desenvolvimento (RIDE)

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No governo Fernando Henrique Cardoso, a Integração Nacional e o Desenvolvimento Regional foram retomados como prioridades, em resposta “à demanda de redução das disparidades sociais e regionais”. Este o objetivo do Ministério da Integração Nacional e de sua Secretaria de Programas Regionais Integrados. Integração é palavra chave e o seu sentido é inerente aos anseios mais fortes e naturais da humanidade.


 


O desejo de incorporar, de integrar partes ainda desconhecidas do planeta Terra levou os homens aos desafios dos “mares nunca dantes navegados”. A Europa, que através dos seus navegantes, fez tantas descobertas, e, durante séculos, foi um continente dividido por disputas e guerras, construiu a integração exemplar de 27 países. A União Européia, mais do que a um mercado comum, chegou a uma moeda única, o euro.


 


Se isso foi possível, superada até a rivalidade França X Alemanha, será impossível conjugar os interesses de 29 municípios dos estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe na Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento do Submédio e Baixo São Francisco?


 


Pois bem, já que isso não parece tão fácil, recorra-se ao convite do ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, dirigido ao governador Jacques Wagner, para conspirar em favor do Nordeste.


 


Ele deve ser logo aproveitado como estímulo a outra trama mais localizada, com tática de guerrilha, contra o descaso que castiga a microrregião de Paulo Afonso com os efeitos conjugados da falta de estradas, de segurança e proteção jurídica, e de serviços de saúde pública, todos eles multiplicadores da pobreza escondida pelo bolsa família.


 


A novela do Hospital Nair Alves


 


E até com símbolos sob medida para enfeitar estandartes, dentre eles as novelas do Hospital Nair Alves de Souza e do reassentamento de Itaparica, este já comparado a “um barril prestes a explodir”. E seu caldo de cultura que é a síndrome do fogo de palha, as chamas fugazes dos entusiasmos passageiros por uma causa, a Universidade Federal do Sertão, por exemplo, apagadas sempre pelos conformismos permanentes. E se compreenderão as enfermarias ou sepulturas, como as do Programa e Instituto Xingó, do Projeto São Francisco de Piscicultura e das motonetas, cervejaria e Copa Vela, filha abandonada do turismo, sempre na UTI, a única existente em Paulo Afonso.


 


Sede do complexo energético da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, em Paulo Afonso e seu entorno baiano se registra o mesmo abandono dispensado a outras porções do semi-árido atravessadas pelo Rio São Francisco. No caso envolvendo municípios dos lados pernambucano, alagoano e sergipano, também situados entre as usinas de Itaparica, Paulo Afonso e Xingó.


 


Fique claro que esta maquinação guerrilheira, inspirada em sugestão ministerial, terá na linha de frente, como seu alvo estratégico, a proposta de criação da Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento. Pelo menos um dos prefeitos eleitos em 2008, Júlio Lóssio, de Petrolina, defendeu “gestão integrada no São Francisco”, a partir dos municípios unidos para assegurar ações federais e formalizar parcerias.


 


São Francisco: rio da unidade ou da desunião?


Certo que o prefeito Lóssio leva vantagem: governará Petrolina (PE), que já forma com Juazeiro (BA) e seus respectivos municípios periféricos Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento. Mas sua palavra e seus atos somarão em favor desse integracionismo mais amplo, às margens do São Francisco, outrora considerado “rio da unidade nacional”, hoje candidato a “rio da desunião regional”.


 


Da mesma forma estará nesse somatório o pacto do Baixo São Francisco, em montagem pelos governadores Marcelo Deda (SE) e Teotônio Vilela (AL).


 


Só faltam as manifestações dos governadores Jaques Wagner (BA) e Eduardo Campos (PE) para que se feche o circuito de arranjos territoriais, desde Juazeiro-Petrolina, incluindo outros municípios intermediários de Pernambuco e da Bahia, e seus pólos mais expressivos, Paulo Afonso, Petrolândia, Delmiro Gouveia/Piranhas, Canindé do São Francisco, até à foz do rio, ora em luta desigual com o Atlântico.


 


É até admissível que o prefeito Francisco Teles, de Santa Brígida, já refeito do susto da eleição para a presidência da UPB (“Vim aqui a Paulo Afonso para votar”), incorpore a União dos Prefeitos da Bahia ao surto de integracionismo.


Munição (de argumentos) não faltará à guerrilha integracionista do São Francisco, nem solidariedade à conspiração pelo Nordeste do ministro Mangabeira Unger e do governador Jaques Wagner.

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