Por Francisco Nery Júnior
No Mulungu (Tancredo Neves), um cidadão pega água no reservatório de PA-IV e sai, com os seus próprios recursos, a tentar salvar as árvores agonizantes do bairro. Ao lado do Mercado Municipal, adjunto da Feira Grande, um comerciante cidadão ornamentou duas ou três árvores para o Natal.
No circuito do Centro, um velho cidadão, alquebrado e teimoso, garrafões de água enriquecida de compostagem na mala do carro, tenta salvar as também agonizantes árvores no seu percurso. Não sei se leram Dom Quixote de la Mancha de Miguel de Cervantes.
Neste ínterim, um convite ao leitor para um convencimento irrefutável em relação à importância das árvores: tapar o nariz por dois ou três minutos e verificar a agonia resultante. O oxigênio salvador contido na lufada do ar avidamente inspirado foi fornecido pelas árvores ao seu redor. Elas são vida. Sem elas, a morte certa!
De volta à prática da cidadania, lá pela Praça da Libanesa, em uma das curvas da praça, duas garrafas pet no meio do asfalto. Um senhor compenetrado, presumidamente cioso da prática da cidadania, abaixou-se – arriscando a vida no meio da pista – e sequestrou o entulho.
Carinhosamente pegou as garrafas. Creio mesmo tê-lo visto apertá-las contra o peito varonil de um cidadão brasileiro.
Fiquei com vergonha de mim mesmo; duvidoso talvez. Teria eu sido capaz de tão belo e tocante exemplo de cidadania pura? O Poder Público não pode tudo e carece que todos ajudem na limpeza da cidade. Afinal, higiene é vida. Limpeza conforta os olhos e lixo é lixo.
Tudo, porém, tomou seu lugar depois que a banda passou. Tudo em estaca zero. O cidadão da nossa crônica minunciosamente examinou as duas garrafas, reteve a que melhor lhe pareceu aproveitar e devolveu a preterida ao seu lugar no meio da rua. Quero dizer que a jogou de volta no meio do asfalto.
Ao concidadão, que não me pareceu encrenqueiro ou perigoso, não consegui reter a observação: Eu já ia elogiar, deixei escapar!