14 de dezembro de 2025

TJBA designa segurança pessoal a juízes de Paulo Afonso em decorrência de investigações judiciais; entenda

Por

Jornal Grande Bahia/Carlos Augusto - (Mestre em Ciências Sociais pela UFRB)

 

Reportagem foi publicada nesta terça-feira, 25 de janeiro de 2022, pelo site do Jornal Grande Bahia (aqui) e assinada pelo seu diretor e editor, Carlos Augusto (Mestre em Ciências Sociais pela UFRB).

A série de reportagens sobre o ‘Caso ‘Rapere in Jus’ (Justiça em Causa Própria) abrange informações oficiais sobre a investigação promovida pelo Poder Judiciário Estadual da Bahia (PJBA) a respeito da atuação do ex-juiz Rosalino dos Santos Almeida que, à época dos fatos, atuou como titular por 25 anos da 1ª Vara Cível da Comarca de Paulo Afonso e cujos atos podem ter ocorrido em possível conluio com servidores, advogados e empresários através, principalmente, de decisões judiciais envolvendo três tipos de ações judicias:

1) Expurgos Inflacionários;

2) Inventários; e

3) Revisionais.

Circunscrita aos anos de 2015 a 2020, a investigação judicial interna corporis apurou que — ao menos, em 95 processos judiciais do tipo Expurgo Inflacionário promovidos contra o Banco do Brasil (BB) — o esquema pode ter resultado em desvios financeiros da ordem de R$ 150 milhões.

Nas ações sobre Inventários o montante é significativo e o Jornal Grande Bahia (JGB) vai publicar, em outra reportagem, o número dos processos onde a sindicância interna do PJBA identificou possíveis atos ilegais praticados contra os herdeiros dos respectivos espólios judicializados na 1ª Vara Cível da Comarca de Paulo Afonso.

É possível antecipar que o esquema com Inventários, em tese, chegou a operar em outros estados da federação, a exemplo do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Maranhão, a partir de ordens emitidas pelo então juiz.

No caso das Ações Revisionais, o número de processos, partes envolvidas e possível montante desviado está em apuração.

O esquema funcionava com o pedido de financiamento de veículo de luxo por parte do futuro autor da ação judicial que, na sequência, realizava o pagamento de uma, ou algumas parcelas iniciais, para depois ingressar na 1ª Vara Cível da Comarca de Paulo Afonso com pedido de decisão liminar para suspensão dos pagamentos e a manutenção do bem. As evidências apuradas pela sindicância indicam que o juiz atendia os requerimentos liminares e promovia despachos sem obedecer a procedimentos processuais e critérios legais.

Enquanto a investigação judicial sobre Ações Revisionais prossegue, os magistrados titulares estão tomando medidas saneadoras, com exigência de comprovante de residência, cobrança de custas dos autores das ações que estão com a posse dos veículos, e negando liminares pleiteadas.

As medidas adotadas pelos juízes titulares resultaram na significativa redução do número de Ações Revisionais, cujo total de novos pedidos diminuiu de forma considerável.

O núcleo de investigação
A investigação do Caso ‘Rapere in Jus’ teve início a partir de uma representação do Banco do Brasil junto ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre evidências de procedimentos ilegais praticadas pelo juiz Rosalino dos Santos Almeida, titular da 1ª Vara Cível da Comarca de Paulo Afonso, em ações de Expurgos Inflacionários.

O órgão de controle da Justiça, por sua vez, determinou que o PJBA realizasse abertura de Processo Administrativo Disciplinar (PAD) para apurar os fatos.

A partir deste ponto, o desembargador do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA) José Alfredo Cerqueira da Silva, Corregedor Geral da Justiça, ordenou, em 2019, que a juíza Andréa Cristina de Miranda Costa averiguasse os fatos e produzisse o relatório inicial que apurou as condutas de Rosalino dos Santos Almeida.

Na sequência, foram designados os magistrados Paulo Ramalho Campos Neto e Claudio Santos Pantoja Sobrinho, respectivamente, titulares da 1ª Vara e 2ª Vara dos Feitos relativos às Relações de Consumo, Cíveis e Comerciais da Comarca de Paulo Afonso, em conjunto com dois outros servidores técnicos de confiança dos magistrados para que atuassem na apuração.

Os magistrados se depararam com um quadro de terra arrasada, por assim dizer, em função da extensão dos danos causados à própria imagem da Justiça na região de Paulo Afonso e do extenso número de processos cujas evidências de ilegalidades eram observadas em procedimentos pugnados pelo ex-juiz titular e pela ex-escrivã responsável do Cartório Judicial da 1ª Vara.

Na sequência, o Corregedor Geral da Justiça determinou que o juiz Marcos Adriano Silva Ledo passasse a acompanhar o caso como auxiliar direto da Corregedoria, em conjunto com servidores técnicos do próprio Tribunal de Justiça.

A gravidade dos fatos apurados apontava para a formação de uma possível Organização Criminosa (ORCRIM) que atuou com hierarquia e comando a partir de decisões ilegais proferidas pelo juiz titular da 1ª Vara Cível da Comarca de Paulo Afonso, ao longo de vários anos. Mas, como dito anteriormente, a investigação está concentrada no período de 2015 a 2020.

Magistrados ameaçados
Destacado pela competência técnica e espírito público no qual atua, o juiz Paulo Ramalho Pessoa de Andrade Campos Neto requereu do Tribunal de Justiça segurança pessoal para ele e para o colega Claudio Pantoja.

O requerimento ao Setor de Segurança do TJBA foi formulado em 14 de dezembro de 2021 e, imediatamente, deferido pelo desembargador Baltazar Miranda Saraiva.

Com exclusividade, o Jornal Grande Bahia teve acesso a cópia do pedido de segurança pessoal, no qual são apresentados os fundamentos do requerimento (veja abaixo). Ocorre que relato do magistrado Paulo Ramalho ao Tribunal é estarrecedor, por apontar um quadro de completa incúria no qual se tornou, no passado, o juízo da 1ª Vara Cível da Comarca de Paulo Afonso, conforme observa-se nos seguintes trechos do documento:

— O subscrito é Juiz Titular da 1ª Vara Cível da Comarca de Paulo Afonso, Estado da Bahia, e, após assumir a titularidade, em 23/11/2020, deparou-se com inúmeros processos com graves questões processuais que mereceram reparo enérgico em sede jurisdicional.

— Inúmeras ações com distribuição direcionada para a 1ª Vara Cível, ações com bloqueios, transferências e alvarás de levantamento de vultosos valores, em desacordo com as leis vigentes, inventários com tramitação irregular e com graves irregulares indicam que ocorreram graves fatos em diversos processos de Paulo Afonso. Em que houve, aparente, direcionamento indevido de processos para a 1ª Vara Cível de Paulo Afonso/BA.

Na sequência, o magistrado lista 60 números de processos onde verificou evidências de graves ilegalidades em atos promovidos pelo Cartório Judicial da 1ª Vara Cível e em decisões do juiz titular.

Em outro trecho do documento, o juiz Paulo Ramalho lista números de 11 processos “em que houve aparente levantamento ilícito de milhões de reais” e conclui afirmando que:

— Referidos fatos indicam que, em tese, haveria uma organização de pessoas direcionadas para a prática de atos processuais em desacordo com a legalidade estrita, a indicar que a ação era direcionada para intento não amparado na legislação.

— Vários atores processuais e extraprocessuais atuaram, cada um com uma determinada função, visando um aparente conluio reiterado para a prática de atos gravíssimos.

 

Páginas 1 e 2 do requerimento do juiz Paulo Ramalho para que o TJBA designe segurança pessoal em decorrência das investigações judicias do Caso ‘Rapere in Jus’. Crédito: Jornal Grande Bahia

 

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COMENTÁRIOS

Comentários 11

  1. É né... says:

    A casa tá caindo. Há muitos anos que aguardo esse momento lindo e histórico. Quero ver a tropa das famílias de certos políticos, certos funcionários do Banco do Brasil de Paulo Afonso, advogados e empresários, caírem tudo por água abaixo.

    • Anônimo says:

      Vamos ver no que dá, só não precisa desse circo todo que….. tá fazendo, até parece que que lê é santinho!!!

  2. Eduardo Fontes says:

    Kkkkk,escolta policial, esse juiz quer de qualquer forma ser o centro das atenções .Não precisa isso tudo!!!

    • Fabio says:

      Eduardo fortes eles estão certos de pedir escolta, o caso é sério…. Não é a sua vida que tá em risco. QUE SEJA FEITA JUSTIÇA, LEIA A SINDICÂNCIA . MPBA, OAB E MPF TEM QUE CaiR EM CIMA.

  3. Eduardo Fontes says:

    Não precisa armar esse circo todo,esse show pirotécnico!!!

  4. Ana says:

    Que esse … e …. seja resolvido, muitos pais de familias inocentes. OAB tem que tomar providências urgente.

  5. Marislayne says:

    Esse caso merece uma reportagem no fantastico, era uma festa de refinanciamento de carro a maioria colocava endereço no inesistente. Temos que cobrar justiça dos orgãos.OAB , MPBA e MPF tem que tomar providências contra esses envolvidos. Foram milhões do banco do brasil.

  6. Marcelo says:

    Espero que o inventário de minha tia seja resolvido. Mais de 26 anos as coisas se acabando e esse … não resolvia.

  7. Catarina sá says:

    Corre aqui tv globo, recorde e sbt. O negocio foi feio. Merece uma reportagem no fantastico desse esquema fraudulento. Parabéns Dr. Pantoja e Dr Paulo Ramalho vamos fazer justiça, colocar esses …, tiraram o sussego de diversos pais de familias.

  8. Anônimo says:

    Tô chocado!

  9. Eduardo Fontes says:

    Agora ,seria interessante colocar aqui os nomes dos advogados envolvidos, para que eles não enrole mais alguém!!

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