Uma quadrilha baiana que atuava em um esquema de compras e vendas ilegais de produtos estéticos lucrou mais de R$ 1 milhão, no período de um ano, em Salvador, de acordo com informações da Polícia Civil. O grupo, formado por dois homens e três mulheres, utilizava nomes de conhecidos médicos de Salvador para adquirir medicamentos na internet. Quatro dos cinco integrantes da equipe foram apresentados no Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP), na Piedade, na tarde desta segunda-feira (21).
Entre o material apreendido pela polícia estão 367 ampolas contendo botox de diversas marcas, 405 micro-agulhas, ampolas com anabolizantes, diversos aparelhos para rejuvenescimento, além de carimbos e receituários com o nome de médicos atuantes nas áreas de cirurgia plástica e neurologia da capital baiana. Para ter acesso aos produtos estéticos, os suspeitos compravam os medicamentos em sites de todo o país com os registros falsos dos médicos e os revendia em Salvador. Estima-se que cada caixa de botox, que pode valer cerca de R$ 600, era vendida por até R$ 2 mil reais pelo grupo.
Os integrantes da quadrilha Alisson Souza de Araújo, 23 anos, Flávio dos Santos,33 anos, Flávia Peçanha Martins de Cavalcanti, 33 anos, e Genniff Loise Batista Coutinho, 22 anos, foram presos nos bairros de Jardim de Armação, Pituba e Acupe de Brotas, na última sexta-feira (18). “O flagrante foi feito quando dois deles estavam com uma receita falsa perto de uma farmácia de manipulação, na Armação”, disse a delegada responsável pelo caso, Glória Izabel Ramos.
Só Maria Ledaiane Andrade Cruz, 27 anos, outra envolvida no esquema, foi liberada pela Justiça, por estar amamentando seu bebê de quatro meses.
Conforme a polícia, enquanto Flávio e Alisson se passavam pelos médicos na internet, Flávia, que é formada em fisioterapia, era responsável pelas vendas dos produtos.Já a garota de programa Genniff tinha a missão de receber os produtos em casa. A polícia apreendeu parte dos produtos nas residências de cada integrante da equipe. Depois da prisão, segundo a delegada, a maioria dos envolvidos no esquema confessaram os crime e revelam que mudavam de endereço para dificultar as investigações.
Além dos receituários falsos, a quadrilha também utilizava os nomes dos médicos na hora da compra. “Eles colocavam o nome do médico, mas o número era de um cartão clonado ou falso. Quando a operadora fazia a cobrança pela falta do pagamento, eles entravam em contato com o médico para cobrar e o médico, por sua vez, dizia que não fez a compra. Quando o médico nos procurou, começamos as investigações”, explicou a delegada.
Próxima etapa da investigação
A Polícia Civil ficou sabendo dos crimes há seis meses, depois da denúncia de um desses médicos que teve o registro usado pela quadrilha. De acordo com a delegada, a investigação locou uma casa, na Praia de Armação, para ficar mais perto dos suspeitos.
O delegado Adailton Adam também participou das investigações. “A gente observou os ambientes que eles frequentavam e as casas onde viviam”, disse. Conforme ele, o grupo mudou o padrão de vida depois dos golpes.“Agora, os carros deles são de médio e alto porte”, completou.
A próxima etapa da polícia é investigar se pessoas que compraram os produtos foram enganadas pelos criminosos ou se já sabiam da ilegalidade da venda. “Agora vai começar a investigação para chegar nas pessoas que adquiriram esses produtos, mas o braço operacional da quadrilha já está preso”, afirmou o delegado. Adam disse que não descarta a possibilidade do envolvimento de outras pessoas nos crimes.
Todos integrantes da quadrilha estão a disposição da Justiça e vão ser responder por organização criminosa.
Fiscalização de receitas
Um dos médicos vítima da quadrilha, que preferiu não se identificar, foi procurado pelo jornal CORREIO e ficou surpreso ao saber da atuação da quadrilha.“Eu estou sabendo disso agora”, disse.“Nunca comprei esses produtos pela internet”,confessou assustado.
O Presidente da Associação Baiana de Medicina (ABM), Robson Moura, falou ao jornal CORREIO sobre a fiscalização de receituários e carimbos de médicos no estado. “Infelizmente o uso de carimbo que seria uma proteção pro médico, mas hoje qualquer pessoa pode fazer um, porque não existe fiscalização”, falou. Segundo ele, recentemente uma médica foi vítima do mesmo golpe. “Tem pouco tempo que aconteceu isso com uma colega no interior”, completou.
O vice-presidente da Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb), Julio Braga, alertou sobre o perigo do uso indevido desses medicamentos. “Esses medicamentos têm diversos usos na medicina, mas eles costumam ser utilizados para fins estéticos. As pessoas que utilizam esses produtos sem acompanhamento um profissional qualificado podem ter problemas estéticos paralisias e lesões, problemas de pressão e até infarto”, explicou. A venda de um dos produtos comprados pelos suspeitos, a toxina botulínica, só pode ser feita diretamente aos profissionais de medicina ou odontologia, com uso registro profissional.