Pe. Celso se despede de Paulo Afonso. ‘Responda à vida que vais caminhar e enfrentar sempre’

Neste domingo (19), Pe. Celso Anunciação celebrou a última missa como pároco da paróquia de São Francisco de Assis. A despedida fora anunciada há pouco mais de um mês – Pe. Celso segue para a Alemanha -, desde então o padre cumpriu uma agenda extensa: inaugurou igrejas na área rural, batizou centenas de crianças, recebeu muitas homenagens de várias instituições pauloafonsinas, e o povo ali.

O povo sempre junto, porque quem semeia amor, carinho, cuidado e respeito, colhe. Faltava a palavra final. O aceno. Cercado de girassóis – sua flor predileta, e do Evangelho de Mateus (5,38-48), Celso deixou em sua homilia a palavra do Pai, mas também de mãe.

Antes de escrevê-lo, na íntegra, acrescento que a equipe litúrgica da São Lourenço colaborou para que tudo fosse sublime, do canto ao acolhimento da multidão, a despeito das lágrimas silenciosas. Concelebraram os Padres: Luiz Tibúrcio (Centenário), Roni (Catedral de Fátima), Ramos (Jeremoabo) e a participação do diácono Pedro (Comunidade Arca da Aliança).

Segue Pe. Celso:

″Ame o próximo como a si mesmo – a gente tem que ter amor, e o amor pelo outro começa quando a gente tem amor por si mesmo. Ele próprio recomenda isto: ‘Tenham fome e sede de Justiça’ e a justiça começa quando zelamos do nosso direito e do direito do outro. Ninguém tem o direito de dar um tapa no rosto do outro, nem Cristo chama a isto. Vós sois santuário – sabe o que é?, o lugar onde Deus quer morar. Então não devemos aceitar o tapa de ninguém, então do que é que Jesus está falando?, mostre a outra face. Se você recebeu na vida um ato de violência, não responda com violência. Olhe, às vezes a vida dói, a vida doí muito, mas não responda com violência às pancadas da vida. Recebemos marcas e cicatrizes, mas não adianta respondermos o mal que recebemos com o mal. Não adianta.

Não guardar ressentimento

‘Quem guarda ressentimento se torna vítima do mal que lhe fizeram. Quem te faz o mal responda com grandeza: ergue tua vida, caminha, responda com amor, com esperança com a luta e com a caminhada’.

A outra face oferecida

″Não remoer mágoas, o ressentimento é uma doença, é a alma presa, acorrentada, não deixe a tua vida se acorrentar pelo mal de ninguém, peça a graça de Deus que ele se desmanche e acabe com o tempo″.

Nelson Mandela como exemplo

″Não sei aqui quem se lembra?, nos anos de 1987, um homem que passou vinte e sete anos na cadeia, humilhado e torturado porque era negro, depois foi libertado, e saiu com o rosto de serenidade. Depois foi presidente da África do Sul. Ele tinha o exército na mão, podia se vingar dos que o torturaram, mas ele teve a grandeza, a sabedoria da vida, de não responder o mal com o mal. É para isto que Jesus nos chama: ‘Se alguém te der um tapa, oferece a outra face’ mostre a face da sabedoria e da dignidade, a outra face da nobreza, se quer a tua roupa, dar-lhe a túnica, se quer que tu andes um quilometro, andes dois, é possível sempre ir além da maldade do mundo. Não se detenha da maldade que você encontrar no mundo″.

As marcas da vida

″Todos nós de alguma maneira carregamos as marcas da vida. Perdas, mortes, fracassos, ruínas, dores, violência, das desilusões e dos desrespeitos… Todos nos carregamos, a sabedoria da vida é não deixar que essas coisas não nos amarre a alma, aqui a palavra de Deus nos chama. A vida deixa as marcas, mas ir além de todas as marcas e da maldade do mundo, que das marcas da vida possamos nos levantar sempre. Diante do que já passou responda à vida: eu vou caminhar sempre, eu vou sempre mostrar uma outra face.

Quando eu era menino… O girassol

″Quando eu era menino e depois quando cheguei em Fátima-BA, aconteceu uma coisa interessante, como é que tem uma planta que desafia o sol, e às vezes o sol é inclemente e ela se levanta. O pessoal lá em Fátima planta muito girassol, e quando eu fui ordenado padre colocaram muitos girassóis, essa planta me acompanha por isso, mas ela tem essa missão: levanta-se diante do sol, enfrenta-o e mostra a beleza da vida″.