13 de julho de 2025

Paulo Afonso pede socorro: cidade volta a registrar suicídios e expõe crise na saúde mental

Por

Redação

Município já registrou taxa 12 vezes maior que a de Salvador; casos recentes acendem alerta para urgência em ações de saúde mental

Os números assustam, mas o silêncio em torno deles preocupa ainda mais. Paulo Afonso, no norte da Bahia, aparece como o município com maior índice proporcional de suicídios no estado. Segundo dados divulgados pelo jornal Correio da Bahia, com base no DataSUS, a cidade chegou a registrar 12 suicídios para cada 100 mil habitantes em 2019 — um índice 12 vezes maior do que o da capital, Salvador.

A realidade, que já era grave há alguns anos, parece se repetir. Casos recentes de suicídio em Paulo Afonso têm comovido a população e acendido um alerta urgente sobre a necessidade de ampliar e fortalecer as políticas públicas voltadas para a saúde mental. Embora muitos episódios não sejam noticiados pela imprensa local — por respeito às famílias e para evitar gatilhos —, a frequência dos casos é conhecida da comunidade, dos profissionais da saúde e das autoridades.

Em 2020, a reportagem especial do Correio da Bahia revelou que o perfil mais comum das vítimas eram homens jovens, entre 15 e 29 anos. Entre 2010 e aquele ano, 55 pessoas perderam a vida por suicídio em Paulo Afonso, sendo 28 apenas nessa faixa etária. A psicóloga Jalane Maia, especialista em prevenção ao suicídio e pesquisadora do tema, apontou que o tabu em torno da saúde mental, aliado à precariedade da rede de apoio e ao machismo cultural, agrava o quadro.

“Há uma rachadura social e isso é potencializado no interior. É profundo: precisamos ver a questão cultural, econômica, social, a falta de perspectivas de conseguir empregos, uma boa formação educacional. Os fatores de risco se acumulam e devem ser considerados”, afirmou Jalane à época.

Além de fatores individuais, como transtornos mentais e histórico de traumas, o suicídio é também um fenômeno social. Desemprego, desigualdade, ausência de políticas públicas eficazes e a estigmatização do sofrimento psíquico contribuem para o agravamento desse quadro. Em cidades do interior, onde ainda prevalece a ideia de que “doença mental é fraqueza”, muitos deixam de procurar ajuda — ou sequer têm onde encontrá-la.

O município de Paulo Afonso, com população estimada em mais de 118 mil habitantes, ainda carece de um programa consistente e contínuo de prevenção ao suicídio. As ações realizadas, como algumas campanhas pontuais e acolhimentos isolados em unidades de saúde, são insuficientes diante da complexidade do problema.

Diante desse cenário, é urgente que as autoridades municipais — especialmente das áreas da Saúde e Assistência Social — priorizem a implementação de uma política pública robusta, com investimento em psicólogos, psiquiatras, rodas de conversa, educação emocional nas escolas, capacitação de agentes comunitários e linhas de apoio 24h.

Trata-se de uma crise silenciosa, mas que segue ceifando vidas. Não é mais possível tratar o sofrimento emocional como tabu. A dor de existir precisa ser ouvida — e acolhida.

📢 Se você está passando por um momento difícil, procure ajuda. Fale com alguém de confiança ou entre em contato com o CVV – Centro de Valorização da Vida, pelo telefone 188 (ligação gratuita e sigilosa).

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