
Por Francisco Nery Júnior
Foi no dia 08 de agosto. Já debilitado, quatorze anos e quase três meses, velado e vigiado ao lado da minha cama, ele esperou o meu despertar. Eram três horas e quinze minutos [da manhã]. Estirou a perna esquerda, deu o último suspiro e morreu ouvindo a minha voz. Nasceu e morreu ouvindo a minha voz. Em paz e saturado de vida, partiu para o céu dos cachorros. Ainda bem, para a tranquilidade dos leitores, o professor Rubem Alves flertou com a possibilidade de um céu dos cachorros.
Continua comigo, sepultado no meu jardim agora mais completo; mais composto, mais integrado, mais nobre, mais valorizado e mais amado – pela presença de Otta nas suas entranhas. Quiçá intocado para sempre até a consumação dos séculos.
Otta, para os novos, era um cachorro. O meu cachorro. Era, de fato, o filho da minha velhice. Desculpe o leitor, mas foi uma doçura ter amado Otta; com ele vivido e interagido. O vazio é um fato. A qualidade desta escrita deve ter caído. Não há mais Otta ao lado do computador durante a sua gestação.
O título fala de uma nova vida de Otta. Repare o leitor que foi evitado o termo ressurreição. Seria um escândalo para os mais cuidadosos, senão xiitas. Talvez um exagero ou até uma aberração canônica.

Entrementes, verifique o leitor a foto que vai com a matéria: com sete dias quase completos da companhia de Otta nas suas raízes, a primeira resposta poderosa, convincente, irrefutável, sublime e bela da nova companheira. Lá bem no alto, aberta na sua intimidade para o além, o primeiro buquê da nova florada da mesma companheira.
Então, continuo contemplado – e consolado – com a presença do meu assessor. Só que um pouco mais distante do computador.





