
Faleceu na noite desta sexta-feira, 2 de setembro, Dona Risalva Toledo, uma das mulheres mais importantes do município de Paulo Afonso, Bahia. Ela foi vice-prefeita na primeira gestão de Luiz de Deus (1989/1992), e vereadora na gestão (2001/2004), também foi comerciante.
Em nota publicada em suas redes sociais, o prefeito Luiz de Deus lamentou a perda de D. Risalva e se solidarizou com a família. Ele também postou imagens de mais de 30 anos quando inauguraram importante obra no município:
“Recebi a triste notícia que a minha eterna vice-prefeita Risalva Toledo faleceu. Ela, que foi uma mulher ativa na política, ainda ocupou a cadeira de vereadora. Nas fotos, ela aparece na inauguração da Escola de Informática, durante meu primeiro mandato, uma ideia sua que ajudou diversos jovens a se capacitarem. Risalva deixa um grande legado cravado na história de Paulo Afonso, a cidade que ela escolheu para viver e que abraçou como sua! Meus sentimentos e profundo pesar aos familiares”, escreveu Luiz de Deus.
Matéria publicada há cerca de seis meses pelo historiador Antônio Galdino no site Folha Sertaneja (veja íntegra abaixo) destacou o último aniversário da ex-vereadora comemorado com sua família.
“Em 15 de março de 2022, o filho Roberto, a nora Cida, com quem D. Risalva Toledo mora há anos, organizaram uma festinha familiar para comemorar os 95 anos desta senhora que muito contribuiu para a emancipação política de Paulo Afonso, sempre ao lado do guerreiro Abel Barbosa.
Pena que o mal de Alzheimer não lhe permita compreender o afeto dos familiares, dos amigos, de pessoas que a admiram…”
A causa da morte não foi informada.

Dona Risalva Toledo, jovem
Dona Risalva Toledo era cearense de Juazeiro do Norte, terra do Padre Cícero Romão Batista, que todos os anos recebe centenas de milhares de nordestinos que em romaria ali chegam, no começo de novembro mas também em outras datas do ano ali chegam para participar de uma das maiores celebrações católicas do Brasil. De Paulo Afonso saem, todos os anos, centenas de romeiros para o Juazeiro do Norte, a terra de Padim Ciço.
Dona Risalva e seu esposo Raimundo Toledo fizeram o caminho inverso e chegaram ao Povoado Forquilha em 11 de setembro de 1950 e se estabeleceram com um comércio de miudezas na Rua da Frente, hoje Avenida Getúlio Vargas com o seu armarinho Bazar das Novidades.
Vila Poty e a cerca de arame separando-a do Acampamento da Chesf
Forquilha, Vila Poty, Paulo Afonso que ela ajudou a embalar no colo, quando, no começo dos anos difíceis do início da década de 1950 e das décadas seguintes, especialmente estas décadas de 1950 e 1960 quando tudo era tão bem diferente dos dias atuais.
Naqueles difíceis tempos, aquele pequeno povoado Forquilha que depois passou a ser conhecida como Vila Poty, a Rua da Frente, hoje Avenida Getúlio Vargas e a própria cidade de Paulo Afonso, nascida em 28 de julho de 1958, toda essa área onde já moravam dezenas de milhares de nordestinos, continuou separada do Acampamento da Chesf por uma cerca de arame farpado e depois por um muro de pedras, até o início dos anos de 1980 quando o prefeito Abel Barbosa conseguiu que as guaritas fossem abertas, para o fluxo normal de todos, numa derrubada simbólica do muro da Chesf.
A Vila Poty, sem calçamento, sem rede de esgotos, sem luz elétrica, que só chegou ali em 1960, abrigava milhares de pessoas que chegavam atraídos pela oferta de empregos na Chesf que construía a sua primeira usina hidrelétrica, a Usina Paulo Afonso. Houve um tempo em que a Chesf tinha mais de 11 mil empregados.
E na Rua da Frente se estabeleceram os comerciantes da Vila Poty, desde a Guarita Principal da Chesf até as proximidades da Igreja de Fátima.
Ali estavam os sapateiros como Bacôca, Seu Lúcio e outros, as sorveterias como a Vitória, do Seu Artur e a Botijinha, de João Mariano, a Padaria de Zé Marcelo e as muitas lojas de tecidos, confecções e de produtos variados como a Casa das Linhas de Seu Nelinho e o Loja de D. Noquinha e o Bazar das Novidades de Raimundo Toledo e D. Risalva Toledo.
Esta senhora, Dona Risalva Toledo, viveu intensamente a história da emancipação política de Paulo Afonso desde os seus primórdios. Participava ativamente das reuniões secretas quando se discutia o assunto. Era a única mulher nessa atividade tão intensa, vivendo os medos das perseguições e atentados, como os que sofreu o pioneiro Abel Barbosa, seu amigo, seu compadre.
Estabelecida no comércio da Rua da Frente, D. Risalva sentia a necessidade dessa independência de Paulo Afonso porque tudo estava centralizado dentro da Chesf. Ali, no Acampamento da Chesf a hidrelétrica construiu o Mercado Público e ali funcionava também a feira livre, esvaziando o movimento do comércio da Vila Poty.
No seu Bazar das Novidades, conforme entrevistas dadas ao autor, para os seus livros: De pouso de Boiadas a Redenção do Nordeste (1995) De Forquilha a Paulo Afonso – histórias e memórias de pioneiros (2014) e Abel Barbosa – o inventor de Paulo Afonso (2019), um dos seus clientes era um sujeito baixinho chamado Abel Barbosa que, “costumava comprar meias, perfumes e a famosa Brilhantina Promessa”, muito preferida pelos rapazes daquela época”, ela me disse.

Risalva Toledo e seu compadre Abel Barbosa
Ela e Abel ficaram amigos, tornaram-se compadres e ela foi peça muito importante em todo o processo da emancipação política de Paulo Afonso. Ela participava ativamente das reuniões secretas sobre a emancipação política de Paulo Afonso e sabia de tudo, inclusive sobre as fugas de Abel Barbosa e acompanhou de perto as histórias dos atentados que ele sofreu…
Paulo Afonso se tornou emancipado em 28 de Julho de 1958 e sobre esses primeiros tempos de Forquilha, Vila Poty, D. Risalva falou:
Sobre Paulo Afonso na época da emancipação:
“Na época da emancipação, Paulo Afonso era um vilarejo, grande parte das casas ainda casebres, cobertos com sacos de cimento Poti. Nós não tínhamos energia elétrica nem água encanada. Água, apenas nos chafarizes construídos pela Chesf.”
Sobre as lutas pela emancipação:
“Havia muita perseguição. Então, as reuniões tinham que ser escondidas, na calada da noite. Muitas vezes a gente tinha medo da própria sombra. Mas a gente tinha que lutar pela emancipação. Um vez, fizemos um movimento para tirar a feira livre do Acampamento da Chesf para a Vila Poti. Ficamos ali, acampados, perto da guarita da Chesf onde os matutos vinham com os jegues, as caminhonetes de verduras e frutas. A gente fazia aquela barreira. Aquilo foi algo grande porque, sem luta, sem agressão, conseguimos trazer a feira para a Vila Poti.”
Sobre os motivos para a emancipação:
“Olhe, não era brincadeira não. A Chesf cismava e dizia: você não entra mais na guarita e lá dentro estavam o único banco, Banco da Bahia, o hospital, a feira livre, uma igreja, a única da época. A gente se chateou com aquilo. Abel, sempre enfrentando, que justiça se faça, foi um grande batalhador. Dele vinha um grande entusiasmo e a gente pegava e ampliava.”
Sobre sua participação nesses momentos históricos:
“Eu tenho muito orgulho e a felicidade de estar viva presenciando o resultado daquela luta. Na época, a gente fazia com entusiasmo, com vontade, mas a coisa, depois, se tornou tão grande que a gente não esperava ser tanto quanto foi. Hoje, ver Paulo Afonso com esse progresso e perspectiva de mais e mais é uma felicidade muito grande e agradeço a Deus estar viva para ver tudo isso.”
A atuação nos poderes Executivo e Legislativo de Paulo Afonso
Somente no ano de 1988, 30 anos depois desta emancipação política, essa mulher fantástica recebeu o reconhecimento público de sua luta, ao ser chamada para ser a vice-prefeita de Luiz Barbosa de Deus em sua chapa que acabou vitoriosa.

Prefeito de Paulo Afonso, Luiz Barbosa de Deus e vice-prefeita D. Risalva Toledo – 1989/1992
Risalva foi a primeira mulher vice-prefeita de Paulo Afonso e teve destacada atuação durante todo o mandato do prefeito Luiz de Deus, de 1º de janeiro de 1989 a 31 de dezembro de 1992, mesmo com os recursos pequenos daquela época, no apoio aos mais carentes.
O ex-secretário de Administração daquele tempo, Leônidas Marinho, disse que em uma reunião com o prefeito Luiz de Deus, o prefeito teria dito: “você e D. Risalva, quando morrerem vão para o céu. Vocês não sabem dizer não…”
Concluído o mandato em 1992, D. Risalva parecia aquietar-se. Mas, quase 10 anos depois, na eleição do ano 2000, quando estava com 73 anos, enfrentou uma campanha acirrada como candidata a vereadora de Paulo Afonso e foi eleita, pelo PPB, com 995 votos, para a 11ª Legislatura da Câmara Municipal de Paulo Afonso onde atuou de 1º de janeiro de 2001 a 31 de dezembro de 2004, deixando aquela Casa Legislativa com quase 78 anos ou exatos 77 anos, 9 meses e 16 dias.

Com o Padre Celso da Anunciação na homenagem às Mulheres Caraibeiras, no Memorial Chesf e a Mulher Caraibeira Risalva Maria Toledo “Caraibeira de Coragem transforma o Sertão em Jardim.”
No ano de 2009, o Padre Celso da Anunciação teve a brilhante ideia de criar um calendário onde homenageava 12 mulheres pioneiras de Paulo Afonso, a quem chamou de Mulheres Caraibeiras, destacando cada uma delas pelo trabalho que desenvolvia em várias áreas de atuação. Entre estas estava a caraibeira frondosa na beleza dos seus 82 anos de idade, D. Risalva Toledo.
Depois, D. Risalva recolheu-se às atividades do lar. E veio a doença que a consume há anos e o bem querer dos que a amam e que a acarinham todos os dias com o conforto que a idade e a doença necessitam para que ela continue entre nós pelo maior tempo possível e não nos deixe esquecer da importância de sua história.
Há anos, Dona Risalva Toledo, que chegou a Paulo Afonso em 11 de setembro de 1950, viúva há muitos anos do Sr. Raimundo Toledo que dá nome a uma escola da rede municipal, no Bairro Rodoviário, mora com um filho, o médico Roberto e sua esposa Cida no Bairro Panorama, em Paulo Afonso. Também há anos sofre do mal de Alzheimer.





