
Francisco Nery Júnior
Contemporizar, desconstruir para construir, empoderamento, respeito às minorias e às desigualdades, tolerância. Palavras e expressões que o leitor tem incorporado ao seu vocabulário; ao seu uso. É preciso assimilar para se enturmar. Modelar conceitos. Ninguém quer ser considerado um nerd, antissocial ou estraga-prazeres.
Nicolau Copérnico, Galileu Galilei e Winston Churchill foram. A terra realmente é redonda e a Inglaterra de Churchill salvou do nazismo a democracia ocidental. Ninguém é indispensável, mas a História está coalhada de indivíduos que fizeram diferença.
Em engenharia, há o conceito de coeficiente de segurança que é uma espécie de sobremesa ou acréscimo à dimensão ou volume projetado. Segurança extra, quase sempre com baixo custo ou de pouco acréscimo ao orçamento, não faz mal a ninguém. Causa espécie a resistência à adoção do coeficiente por alguns projetistas. Não obstante falhas, emperramentos, cessão de estruturas e desabamentos, muitos deles com perda de vidas, vemos e sentimos projetos no limite da tolerância. Nas minhas obras, o coeficiente sempre foi muito bem levado em conta. Por que comprometer a segurança e a durabilidade de uma obra para economizar poucos sacos de cimento e alguns vergalhões de aço? Em caso de sinistro, fadiga da estrutura, acidente ou intempérie, o prédio do vizinho desaba e o meu permanece.
Pontes e viadutos do Império Romano estão de pé até os nossos dias. Sistemas de esgotamento sanitário funcionam até hoje com manilhas de cerâmica feitas há dezenas de séculos. Os castelos medievais da Europa seduzem os turistas. A Muralha da China atrai outros tantos. Barragens construídas há centenas de anos resistem firmes e fortes.
No Brasil, viadutos e pontes cedem ou desabam antes dos vinte ou trinta anos. A gente olha e sabe que eles têm vida curta. “A gente sabe que vai acontecer”, diria a minha mãe que não tinha a menor ideia de um projeto. Com todo o respeito ao pessoal da engenharia, acidentes como a cessão de parte de um viaduto em São Paulo, ontem, cada vez mais frequentes, em nada corrobora o conceito dos profissionais da área. O problema não se restringe ao Brasil. Os Estados Unidos, por exemplo, estão planejando um programa abrangente de manutenção das pontes e viadutos nacionais construídos há pouco mais de cinquenta anos por força da fadiga das estruturas, degradação do material usado e corrosão da ferragem. Bilhões de dólares serão gastos.
Assim sendo, como os personagens acima citados, temos que fincar o pé e marcar posição. Como concordar, por exemplo, que as secções de um longo viaduto não sejam “amarradas” (claro que mantendo as juntas de dilatação) se em várias ocasiões algumas têm desabado e esmagado veículos e pessoas?
Para terminar, o que pode parecer uma afirmação fora do contexto ou mesmo descabimento: o caminho mais curto para trazer de volta os turistas para Paulo Afonso e Glória é a reconstrução da estrada de ferro Pão de Açúcar-Jatobá. É uma convicção. Estamos seguros. Mas esta é uma conversa para a próxima oportunidade.
P.S. Os turistas param em Piranhas e retornam para o litoral. Ainda: uma prefeita jovem de Piranhas tentou a reativação da ferrovia. Podemos ver os primeiros trilhos empilhados na beira do rio.