29 de março de 2024

Francisco Nery Júnior – Na criação dos nossos filhos, não reter a vara – mas não bater; espancar

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Redação (pa4.com.br)

CRÔNICA – Francisco Nery Júnior

Muito menos espancar! Em inglês, spank, espancar, certa vez gerou uma imprecisão na minha tarefa de tradutor. É que spank significa uma pancada no traseiro com a mão ou algum objeto. Em português, o semantema é carregado e o leitor sabe o significado de espancar. Vai muito além de spank em inglês.

Aconteceu na minha rua, no Bonfim em Salvador. Era a rua da delegacia de polícia e um camburão descarregava um preso por um delito qualquer. Mário, meu filho de quatro ou cinco anos, e eu voltávamos da padaria. O agente penitenciário, preposto ou o que o valha sacou um bom pedaço de borracha grossa, daquelas de chão de oficina, e, sem dó nem piedade, com gosto de vingador da sociedade atenta e corretiva, aplicou um violento golpe nas costas do pobre miserável.

E Mário irrompeu num ímpeto de choro brusco e incontrolável. A reação da criança de quatro anos arrancou de mim, definitivamente, qualquer crença que pancada resolve as coisas; se é que existia alguma crença. Do miserável, nenhuma lembrança da aparência nem alguma ideia da vida ou do paradeiro. Uma certeza é certa: se ele mudou, se se aprumou na vida em sociedade, não foi por causa daquela triste cena que eu não sei se Mário, agora aos quatro anos vezes dez, se recuperou.

Um parágrafo específico para o que vai após os dois pontos: se pancada fosse eficiente para a recuperação, não existiria mais nenhum bandido no Brasil.

Onde fica então o “não reter a vara” tão citado pelos educadores tradicionais? De antemão, sabemos que, ou não temos notícia que, ninguém jamais morreu pela aplicação da vara no sentido pretensiosamente bíblico.

Considerando que Deus é um Deus de amor – Ele, de fato, é amor – aquilo que aparece em Provérbios 13:24, a vara, não seria melhor assimilado como admoestação, conversa, exemplo, mesmo cara feia ou castigo – que é diferente de punição, muito menos vingança – ou privação momentânea de algum privilégio?

Os meus colegas de rua, nós patotinha de adolescentes nem sempre imagens desejadas pelos nossos pais; os meus colegas de rua os mais arredios eram os que mais apanhavam ou eram cobertos de impropérios deletérios pelos seus pais.

A bem da verdade, algumas diretrizes dos pais podem, assim podemos acreditar, sair em forma de “decreto”. Citando um exemplo, a lavadeira me comunicou ter encontrado uma carteira de cigarro na gaveta do camiseiro do quarto de Mário já ficando adolescente. “Mário”, eu o abordei, “já conversamos o bastante. Ademais, a escola e os meios de comunicação são abundantes em comunicar os malefícios do fumo. A escolha, portanto, é sua.” E encerrei a nossa muito breve conversa: “Agora tem um decreto: não fumar dentro de casa. Eu tenho horror a mal cheiro de ponta de cigarro, principalmente quando molhada em canto de banheiro”. Sinceramente não sei se ele desistiu ou continuou com o hábito de fumar que, segundo uma fonte, é responsável por nada menos que 52 doenças.

Fica ao leitor a responsabilidade da escolha: a vara que acreditamos descrita em Provérbios 13:24 ou a “vara da criança e do adolescente” da mãe de Sikêra Júnior, apresentador de televisão com grande audiência detentor de posições outras que respeitamos.

P.S. Vara literal, nem para animais. Vide animais recuperados de circos e sessões de “adestramento” definitivamente destroçados psicologicamente.

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