Meu livro do momento é Dom Quixote de La Mancha (El ingenioso Hidalgo don Quixote da la Mancha), de Miguel de Cervantes Saavedra, o melhor romance de todos os tempos na avaliação de pelo menos dois críticos renomados a que tive acesso e também escolhido o maior livro de todos os tempos pelo Instituto Nobel. Estou lendo a versão muito criteriosa em inglês por John Rutherford. São 1022 páginas que estou a devorar com todo o deleite de um verdadeiro presente do céu. Quando terminar, vou correr atrás da versão em francês. Nesta versão, quem sabe, poderia ter a companhia dos amantes paulafonsinos do francês.
Acabei de ler o segundo capítulo que relata a primeira investida de Dom Quixote montado em Rocinante, devidamente acompanhado do fiel escudeiro Sancho Pança. Resumindo, para não cansar o leitor, ele queria consertar o mundo lutando contra tudo que pode ser resumido na palavra injustiça. Vou já traduzir pequena parte que, quero crer, será uma pequena prova de deleite para o leitor.
Antes da tradução, lembrando que o poeta inglês disse que o maior dilema do justo é se ele deve agir ou se acomodar; e ainda lembrando que o meu velho pai sempre repetia que água benta e presunção cada um toma a porção que quer, dizer ao paciente leitor que cabe a ele a melhor interpretação, bem como a decisão de se acomodar ou agir com fez – e assim ficou eternizado como desejava – o engenhoso fidalgo espanhol. No parágrafo seguinte, a prometida tradução, desta vez do inglês para o português. Ciente que toda tradução é uma traição, John Rutherford afirma que a tradução literária é um trabalho difícil.
Ele cavalgou todo o dia e nada significativo aconteceu o que lhe trouxe grande desespero pois desejava o primeiro embate com alguém em quem pudesse testar o valor do seu poderoso braço. (…) Almejando encontrar algum castelo ou alguma cabana de pastor de ovelhas, ele avistou uma hospedaria que tomou como verdadeiro palácio da sua redenção. (…) Sentadas na porta da hospedaria, estavam duas jovens do tipo conhecido como mulheres de vida fácil com alguns tropeiros que iam passar a noite na hospedaria. E desde que tudo que nosso aventureiro pensava, via ou imaginava lhe parecia ser como acontecia nos livros [de cavalaria] que ele tinha lido, assim que avistou a hospedaria, ele imaginou um castelo com suas quatro torres com seus prolongamentos de prata reluzentes, com sua ponte pênsil e seu fosso profundo e todos os outros acessórios que tais castelos comumente ostentam… ele parou e esperou que um anão aparecesse na entrada e anunciasse com um toque de corneta a chegada de um cavaleiro… caminhou em direção das duas prostitutas e pensou que elas eram duas lindas jovens ou finas damas relaxando no portão do castelo. Neste momento, um pastor que estava recolhendo alguns porcos tocou sua trombeta para ajuntá-los, e Dom Quixote pensou que o seu desejo tinha sido satisfeito e que um anão estava anunciando a sua chegada.
E ficamos por aqui antes da tradução das mil páginas restantes…
Francisco Nery Júnior






Ah, meu caro Nery, seria uma alegria se alguns, ao menos, aceitassem sua sugestão de leitura. Li a obra de Cervantes há muito. E vou reler neste ano, será mais um prazer, só agora com mais atenção ao que, quando moleque, deixei, por ser um verde leitor, escapar.
Parabéns mestre prof nery. uma excelente obra literária.