De supetão: para ele o terrorista sou eu. É assim que ele pensa. O escritor é o representante do mundo que aí está; mundo desigual. Mundo que persegue; mundo que não apoia; mundo que esfacela-se uns aos outros através dos séculos. O leitor dê uma passadinha na história da Europa dita civilizada! Então, para o terrorista, como o aluno em sala de aula que inexplicavelmente ataca no professor o representante imediato da sociedade que o oprime (o aluno fora da sala é, eliminadas as desconfianças ditas, uma delícia de pessoa); para o terrorista, terrorista somos nós.
O que levaria um jovem promissor ( a mocidade é promissora) a esboroar-se pelos ares se causa não tivesse? Por que desistir-se de si mesmo quando a morte é a negação da vida? Observe o leitor como a caça vai aos limites da proteção para escapar da morte. O jovem radical não perderia a sua vida por nada. Vida é vida. Cada átomo luta desesperadamente para não se desintegrar do todo. Já fomos jovens – você e eu. Lutamos contra tudo e contra todos e vencemos. O que encontramos de inexplicável nas nossas lutas não caberia em uma simples crônica de jornal; em um arrazoado simplista de alguém que não desiste da luta para, a cada dia, ser menos ruim.
Os jovens terroristas expõem as suas vísceras para nos alertar. Jogam pelos ares as partes intestinas jogando na nossa cara aquilo que considera a nossa insensatez. Como ele (como nós?) pode entender que, num mundo repleto de milhões de miseráveis, existam diárias de hotel de cinquenta mil reais? Como entender a morte na frente do hospital público lotado do enfartado carente sem um tostão no bolso?
Os jihadistas seguem Maomé. Eles o preferem a Cristo. Assim o fazem porque têm direito de seguir a quem bem entenderem. Os extremistas praticam atos que repudiamos. Aborrecemos a ceifa de vidas inocentes – às vezes famílias inteiras, velhos e crianças – por uma van tresloucadamente jogada numa passarela de Barcelona.
Os meios que podem transformar o mundo são os que normalmente pregamos, sem violência. Bem claro na nossa mente que quem com ferro fere com ferro será ferido. O mal traz outro mal ainda pior. A História mostra avanços “pacíficos”, aqueles advindos de lutas por assim dizer racionais. Basta ficarmos com a transformação “pacífica” da África do Sul liderada por Nelson Mandela. Mandela evitou, heroica e civicamente evitou, o banho de sangue que todos prevíamos.
Como todo mal traz inexoravelmente um bem – atos terroristas são maus -, imaginemos um mundo melhor. Votemos naquele que legislará para todos. Apoiemos aquele que promete governar para todos com uma queda pelos mais fracos. Almejemos sempre o responsável de pés no chão.
Cada um de nós pode começar nas suas redondezas. Ser justo, ser leal! Resistir às tentações do egoísmo. Não é esta, porventura, a nossa a luta? É, ou não é? Vamos lá, você e eu. Somos bons ou somos maus? Será que matreiramente nos enganamos a nós mesmos? Questionemos se praticamos o que pregamos. Somos capazes de mudar, ou não somos? Precisamos, nós outros cá de baixo, de terroristas que nos alertem para os nossos deveres os mais primários? Saibamos que quem não tem nada a temer, nada em que acreditar, nada tem a ponderar. Esse simplesmente dará vazão aos seus instintos mais primitivos.
A responsabilidade é nossa. Segundo o professor Hélio Rocha, os maus não são bons porque os bons não são melhores. Sejamos um pouco melhores. Um dia alguém vai nos agradecer como hoje agradecemos aos que foram melhores para com nós mesmos.
Francisco Nery Júnior