16 de julho de 2025

CRÔNICA – O menino e os quadros [Francisco Nery Júnior]

Por

Redação

Oito anos no máximo. Na parede de um dos quartos da casa, um quadro colocado pelo meu pai. A figura era de Rui Barbosa; mão no queixo, taciturno e como sempre a exceder: “Por derradeiro, amigos de minh’alma, por derradeiro, a última, a melhor lição de toda minha vida, o resume se abrange nestas sete palavras: “Não há justiça onde não haja Deus”.

A redação está como grafada na minha cabeça. Foi dispensada uma pesquisa fácil de ter sido realizada. Entrementes, uma coisa intrigava o menino de menos de oito anos: o que seria derradeiro? Ninguém da casa foi consultado e a dúvida se dissipou em futuro próximo.

Agora o menino já ia deixando a infância para trás. Onze, doze, ou lá pelos treze anos. Na parede da casa de Dona Mariinha, espécie de mascate fornecedora de panos e apetrechos domésticos para minha mãe, um quadro.
A minha mãe, sorrateiramente, às escondidas do meu pai – que odiava prestações –, comparecia, escolhia e comprava. Comprava em prestações mensais. Ela adorava a casa. A arrumação enchia-lhe o espírito de prazer. O menino entendia bem a situação e entrava em conluio com a mãe. Assim sendo, sobrava para ele a tarefa de entregador das parcelas mensais.

O quadro? Abaixo de uma paisagem bucólica, a árvore a sangrar, a inscrição: “Sê como o sândalo que perfuma o machado que o fere”.

 

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