
Por Francisco Nery Júnior
Placidamente morreu e placidamente o enterramos ao pé do jenipapeiro no pátio central do Ciepa – que custa ser urbanizado. Domingo pela manhã, ainda sem tomar café, Severino, o faz-tudo da instituição, bate à minha porta. Finalmente aconteceu: Picolé, um cão de rua, talvez abandonado por alguém carente de sensibilidade, ou perdido nas ruas e alamedas da nossa ilha, tinha falecido na noite anterior.
Ele era Picolé, nome singular que alguém inspiradamente lhe atribuiu. Rodou por mais de quinze anos nos nossos pátios e em frente às nossas salas. Algumas vezes nos assistiu. A mim não incomodava. Mesmo inspirava. Num ofício carente de inspirações, a inspiração de Picolé!
E agora descansa e permanece na nossa escola que ele considerava a sua casa. O Ciepa era a casa de Picolé. Ali reinou e ali viveu. Tirá-lo de lá teria sido arrancá-lo do seu rincão; do seu pedaço.
Todos o amavam; caqueavam e o protegiam. Picolé, pessoal, era um encanto de cachorro! Daqueles encantos providenciados por Deus.
Sentirei falta, há que ser registrado, dos fins de semana quando, agora aposentado, levava um tira-gosto em visita a Picolé. E então eu era muito mais compensado do que ele. Ficando velho e aposentado, Deus providenciou a professora Luana para coordenar o bem-estar de Picolé. Pedido feito e respondido.
No processo do seu sepultamento, o segurança, bom no seu ofício, sem muito tempo para o cuidado que nós outros procurávamos ter em relação a Picolé, de repente se aproximou. Olhou, matutou e deixou sair da boca algo para mim memorável e digno de nota para os que valorizam as coisas espirituais: “É Picolé, obrigado pela sua amizade e pela companhia que nos proporcionou nas noites frias e solitárias que passamos juntos”.
Após a última pá de terra, Picolé já incorporado ao jenipapeiro que começa a florir, todos nos retiramos e voltamos para casa muito mais dispostos a cuidar dos nossos pets – e dos enjeitados ao nosso redor – com muito mais amor.
P.S. O ex-presidente Jânio Quadros tinha uma cachorrinha sem raça definida. Quando ela morreu, Jânio fez se reunirem ele e os quatro ou cinco amigos de confiança no canto do jardim da sua casa e, na beira da sepultura, discursou em homenagem àquela que, amada, lhe havia devolvido amor. (Fato narrado por Sebastião Nery, um dos amigos mais chegados, em um dos seus livros). Assim fez o segurança em relação a Picolé que todos nós do Ciepa amávamos,






Que Jesus derrame Bençaos a todos que proporcionaram uma vida digna ao amigo fiel de todas as horas.
Amoooooooooooooo os animais!!!!!!