9 de outubro de 2024

ARTIGO – Lampião, líder e guerrilheiro (Francisco Nery Júnior)

Por

Redação, sitepa4

Em seu aparato de guerra | Crédito: Reprodução

 

Lampião, líder e guerrilheiro

Por Francisco Nery Júnior

O cangaço foi uma saga ocasionada por uma ordem social de opressão. É, efetivamente, um fenômeno inegável que pode não ser justificável, mas é explicável. A literatura sobre o cangaço é farta e disponível. Melhor seria termos um João Lima a escrever, o que não impede um Francisco Nery de assim fazer. Afinal, li alguns livros sobre os cangaceiros ainda em Salvador e, interessante, uma das minhas emoções ao vir a Paulo Afonso pela primeira vez foi estar entrando na área de atividade do cangaço de homens determinados e decididos a mudar as coisas à sua maneira.

Pagaram caro com a desnecessária degola das suas cabeças na Gruta de Angico (que vale a pena a sensação da visita). Não sei se foram heróis. Apenas sabemos que deixaram uma marca. Gritaram como podiam, praticaram excessos com suas cabeças determinadas e foram, quando queriam, sanguinários

Resta saber se tiveram alguma inspiração no episódio de Canudos onde, desnecessariamente a nosso ver, jagunços embirrados sonharam o sonho da sua República para serem aniquilados, quase todos, por uma força descomunal do governo que temia um retrocesso da ordem institucional. Antônio Conselheiro, como ainda alguns de nós, tinha a monarquia em alto conceito.

Lampião deve ter sido detentor de um alto QI (quociente de inteligência). Sua liderança era inquestionável. Não me vêm à mente episódios de ameaça dos subordinados. Lampião liderava sem a necessidade de tanques e canhões. Provavelmente não tinha uma Abin interna à sua disposição. Tinha, de fato, os seus coiteiros, informantes verdadeiros pontas de lança para os seus ataques e as suas investidas.

Líder nato, foi um precursor dos guerrilheiros modernos sem a fama de um Che Guevara, um Steve Biko ou um Nelson Mandela. A nossa afirmação se baseia na sobrevivência do bando por dezoito anos avidamente caçado pelas polícias de diversos estados. Poderia ter ido mais adiante se não fosse a cachaçada da noite anterior ao dia em que foram massacrados.

Massacre inadmissível e evitável levando em conta que Virgulino Ferreira da Silva era um homem inteligente, era casado com Maria Bonita e tinha uma filha para cuidar. Com gente inteligente, se negocia. Aliás, assim fez o Governo quando tentou cooptá-lo para combater a Coluna Prestes, oferecendo-lhe a patente de capitão do Exército Brasileiro.

Cortaram a cabeça dos cangaceiros enfraquecidos pela ressaca da cachaça. Organizaram-se devidamente em expedição e cumpriram as ordens superiores. Nós as vimos expostas em praça pública em macabro episódio de desrespeito à pessoa [humana]. Vingaram-se e consolidaram a República e o coronelismo no Nordeste do Brasil.
Entrementes, nenhuma organização se atreveu a evitar o pior mesmo tendo a obrigação de fazê-lo. Todos os grupos de poder desarmados no Brasil vergonhosamente se omitiram. Desde o descobrimento, devidamente enraizados na vida e nos corações penitentes dos brasileiros, principalmente dos nordestinos facilmente tutelados, se omitiram.

Poderia ter havido algum tipo de negociação, tanto em relação a Canudos, quanto em relação ao cangaço de Lampião como foi feito de alguma maneira com remanescentes do bando.

O fato é que a mancha na nossa História é de difícil remoção levando-nos, todos nós, a olhar para a saga do cangaço com olhos piedosos a despeito dos crimes e barbáries outras cometidas por Lampíão e seu bando.

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