Por Athilom Marinho atl_um@hotmail.com
O Caso Thiago Santana Leite
Não há dúvida de que o título deste artigo chamou a atenção, acima de tudo, pelo afã das pessoas de saberem notícias desse caso. Até mais do que nos fazer refletir e aprender. Aparentemente, ele nos interessa pela repercussão, pelo fato de um dos envolvidos ter ligação com nossa cidade e ser alvo de opiniões diversas. Não é à toa que tantos (e tão animados) comentários foram feitos.
E é exatamente para os comentários que esse texto se volta. Numa sociedade totalmente tomada pela ideia de que o mundo é dos mais espertos, bonitos, ricos, perdermos a capacidade de se posicionar com o mínimo de sabedoria. Não se trata aqui de inocentar, minimizar ou condenar os atos do rapaz. E sim avaliar como nós enxergamos tudo isso. Os comentários, pelo menos aqueles que foram feitos com atenção aos detalhes, são o reflexo do que pensamos ou demonstramos pensar todo dia.
Os que participaram da polêmica pela farra, também apontam uma maneira de ser e um posicionamento diante do que houve. Afinal, é bem mais previsível esperar reações quando deveria existir reflexão. Mas vamos aos comentários. “Era um menino de ouro”. O que torna uma pessoa assim tão valiosa? A gente já se perguntou isso? Já percebemos que temos o hábito de avaliar alguém ou algo de maneira precipitada. Adoramos dizer que fulano é gente boa logo no primeiro momento que a encontramos. Quais os nossos critérios?
O dito popular “a primeira impressão é a que fica” ainda é respeitado. Sabemos que muitos o levam ao pé da letra. E, outros, sabendo que tantos acreditam nele, o usa como ferramenta pra conquistar, iludir e ser bem visto. A verdade é que ainda avaliamos qualidade e caráter (se é que avaliamos) superficialmente. Outro comentário: “Era universitário, bonito, tinha muitas mulheres, era amostrado por que podia”. ‘Vê-se que o raciocínio (ou a falta dele) é claro. Seguindo essa lógica torta, essas “qualidades” autorizam erros.
Universidade, beleza física, sucesso com as mulheres, ostentação não credenciam ninguém a estar acima de todos. Não indicam superioridade. Há gente sem nenhuma dessas condições que são exemplos enriquecedores. E pessoas que são valiosas possuindo isso, mas não por causa disso. A beleza gera perdão mais facilmente. No entanto, de que beleza estamos falando? Quem fica no limite da pele e do que o olho vê, não sabe o que é qualidade, acredita só no óbvio. E o óbvio, a fachada, mesmo que não pareça, pode carregar uma sujeira maior, apodrecida, viciada e, ainda pior, entendida como algo limpo.
Alguém ainda comentou: “Isso foi uma fatalidade”. Fatalidade indica algo inevitável. Em crimes como esses há consciência e premeditação. Portanto, interesse claro de prejudicar e se beneficiar com o prejuízo alheio. Não foi uma fraqueza momentânea. Foi o produto de uma escolha. Mesmo sendo amigo, irmão, gostoso, feioso, será sempre uma escolha errada.
“É uma pena alguém bonito, jovem, ter trilhado um caminho errado”, este foi mais um comentário. Gente, manter essa forma de pensar é supor que se fosse alguém feio e velho, seria mais aceitável. Que tipo de “pensamento” estamos cultivando em nós? É visível também, considerando o teor de alguns comentários, que havia inveja. Não apontavam o erro, apontavam a pessoa. Como ele tinha tantas “vantagens” que outros queriam ter, vê-lo cair em desgraça foi um prazer. Como podemos ser tão mesquinhos?
O caso do rapaz, enfim, me fez imaginar o que é importante. Que espécie de pessoa sou. E também me animou, me fez perceber que ainda vale a pena ter bom-senso e valor numa sociedade que quase abandonou isso. E pra fechar, o último comentário colhido no site: “Devolver o troco a mais, recebido do caixa do mercadinho também é crime; dirigir embriagado também; estacionar na vaga de deficiente também. Que vida temos levado”?
Athilom Santana