Sob o tema “Nas trilhas do sertão: uma homenagem a Graciliano Ramos”, a Caravana do Curso de Letras da FASETE – Faculdade Sete de Setembro, composta de 39 (trinta e nove) acadêmicos dos oito períodos do Curso e dos professores Luiz José da Silva, Risete Reis e Silva e Cecília Maria Bezerra de Oliveira, fez uso da práxi: teoria e prática, no feitio da pesquisa nas três cidades alagoanas: Pão de Açúcar (26/03), Penedo (27/03) e Palmeira dos Índios (28/03), atingindo plenamente os objetivos traçados e indo além das expectativas de todos os participantes.
Em Pão de Açúcar, a comunidade recepcionou a Caravana em suas residências (Lourdinha – a Poxinha, Rose – discente do Curso de Pedagogia da FASVIPA, Everton – pauloafonsino que cursa enfermagem na cidade e Alaide – pão-de-açucarense, componente da Caravana) e a FASVIPA – Faculdade São Vicente de Pão de Açúcar, superlotou o seu majestoso auditório com os acadêmicos dos Cursos de Pedagogia da casa e da UNEAL – Universidade do Estado de Alagoas, em uma demostração do caloroso acolhimento à Caravana.
Assim, com a saudação a todos os presentes, feita pela Profa. Msc. Cecília Maria Bezerra, foi composta a mesa pela direção da FASVIPA, com a Profa. Marlene representando o Monsenhor Petrúcio Bezerra de Oliveira, pelos coordenadores dos Cursos de Letras e de Pedagogia, respectivamente, Prof. Msc. Luiz José da Silva – FASETE e Prof. José Ronaldo – FASVIPA e pelo palestrante – o escritor Etevaldo Amorim. Após as breves falas dos componentes da mesa, sobretudo, enaltecendo a atividade de intercâmbio cultural, o filho ilustre de Pão de Açúcar – Etevaldo Amorim proferiu sua palestra, fazendo menção ao grande autor de Vidas Secas e estabelecendo ligações das cidades margeadas pelo rio São Francisco, especialmente, Pão de Açúcar, Paulo Afonso e Penedo. Apresentou ricos depoimentos de autoridades renomadas que visitaram a sua cidade a exemplo de Dom Pedro II e destacou a Pão de Açúcar dos viajantes e dos resquícios da presença holandesa através de sua arquitetura.
Em Penedo, as honras da casa ficaram a cargo do guia turístico Gladystone Santos, mais conhecido como Tony que mostrou por que a cidade é tida como o berço da cultura alagoana. O seu belíssimo acervo arquitetônico de estilo barroco faz qualquer pesquisador ficar agraciado com o espetáculo: o prédio que já abrigou o festival nacional de cinema, as 65 (sessenta e cinco) igrejas e capelas, algumas com as pinturas trimensionais e altares com simetria e o indispensável ouro fizeram com que a Caravana se estendesse no tempo, contemplando a arte. Muitos ficaram atônitos com tamanha beleza.
Em Palmeira dos Índios, o Prof. Esp. Sandro Rogério Melros de Oliveira Rios preparou uma mega-recepção à delegação que ao chegar à cidade foi recebida por uma cavalgada, puxada, no 1º pelotão, por cavaleiros medievais e seguida por peões montados nos seus cavalos (todos uniformizados) com direito até a carro de apoio. Foi uma surpresa agradável.
A acolhida se deu no Colégio Logus, localizado na rua Graciliano Ramos, a mesma da Casa Museu que abrigou o grande escritor alagoano. Prof. Sandro conhecedor de cátedra de todas as obras de seu conterrâneo, todavia militante fervoroso da cultura e da história de sua terra emocionou toda a caravana com a sua palestra show e destacou: “Graciliano mostrou toda a miséria do sertão, mas lutou com as armas de que dispôs para denunciá-la”. Continuou fazendo um recorte sobre o seu estilo marcado pela economia de palavras, sendo o número 1 na literatura brasileira. “Foi um intelectual engajado, pois era filiado ao Partido Comunista Brasileiro, mas não foi teleguiado”.
Graciliano Ramos foi prefeito de Palmeira dos Índios de 1928 a 1930 e deixou sua marca registrada pela honestidade e austeridade no tratamento com o dinheiro público. Dizem na cidade que ele não tinha pai, porque cobrava impostos de todos, inclusive, do seu pai.
São perceptíveis as suas marcas na cidade: a sua casa (hoje museu), as residências de sua família, a rodoviária (construída por ele quando prefeito), o prédio da prefeitura de onde ricos relatórios de prestação de contas foram escritos e encaminhados ao governo do estado, despertando a atenção de literatos, daí a frase célebre “o prefeito que virou escritor”. O seu livro Caetés faz menção as ruas de Palmeira dos Índios.
Um fato que chamou atenção é que o município dispõe de 7 (sete) comunidades indígenas, algumas delas representadas no museu Xucurus, em um prédio que foi a primeira igreja da cidade.
De tudo ficou a certeza de que muito ainda há que ser feito para que esta região nordeste seja valorizada pelos próprios nordestinos, inicialmente, e que as autoridades políticas passem a preservar esse patrimônio para o conhecimento das futuras gerações.
Para os caravaneiros ficaram as saudades de um povo hospitaleiro, e as malas cheias de conhecimento. Já se fala na II Caravana, em 2011, para o estado de Pernambuco: é só aguardar!
Mas, antes disso, no dia 29 de abril inicia o II FLIPA – Festival Literário de Paulo Afonso onde a Caravana terá a oportunidade de apresentar o seu relato e é a vez dos pauloafonsinos retribuírem a acolhida aos pão-de-açucarenses, penedenses e palmeirenses. O festival promete!
O ofício do escritor,
segundo Graciliano
“Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.
Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.”





