Atilon Marinho
Hoje, mais do que nunca, na história complexa e pouco conhecida deste país, se destacam denúncias de casos de desbaratamento de quadrilhas que espoliam os cofres públicos. A cidade, desde o início deste mês, não se debruça sobre outro assunto senão os casos de fraude e peculato no INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social).
Quando a Polícia Maior da União pôs os pés nesta terra quente e começou a esfregar na cara dos suspeitos os seus mandados federais, inevitavelmente fez os corruptos envolvidos de alguma forma, mas ainda não citados, esfriarem seus ânimos e hábitos. Os não envolvidos nesse caso, os que adoram ter benefícios sem fazer o bem, os já viciados, também estão cuidadosos. Contudo, não são estes que me preocupam. Somos nós, os ditos corretos e indignados.
Invariavelmente, quando algum caso de denúncia vem à superfície neste grande país, não são poucas as pessoas que estufam o peito, se arvorando em defensoras da decência pública. No entanto, são poucos, infelizmente, os que entendem o que é corrupção e improbidade. Corrupção, na maioria das vezes, só costuma ser entendida como tal quando a soma desviada é vultosa. Assim, boa parte de nós, confortavelmente, repousa na ideia ingênua de que somos todos justos e probos na nossa vida sem manchas.
Sabemos que a corrupção está em toda parte… todas? Melhor dizendo, menos em uma: na nossa avaliação diante do que somos e fazemos. Perdemos a capacidade, com toda conveniência típica da cegueira escolhida, de voltar nossos tão “atentos e precisos” olhos (que gostam de condenar) para nossos atos diários. Cansa e desarvora ver a repetitiva maneira discursista que adotamos para defender a justiça, para qual não vivemos e pouco praticamos, a não ser aparentemente.
Não acordamos ainda, nem sei se vamos acordar, no entanto, os apreensivos com toda essa sujeira descoberta, ainda que com menos descaramento, continuarão sendo o que são, como é o caso da corrupção declarada num certo órgão desta cidade, localizado no Sal Torrado. Estes e seus conveniados, daqui a pouco vão fazer o que sempre fizeram, pois sabem que, no geral, uns poucos são punidos como é devido, por isso correm o risco. E sabem, também, que sempre terão quem os apóie.
A pergunta é: e nós? Os pequenos e fingidos corruptos do cotidiano, que os alimentamos com a nossa cumplicidade. E a nossa sujeira, esta que passa despercebida porque não tem os holofotes dos meios de comunicação para iluminar? Nós, vistos como gente digna e consciente, deveríamos ser os mais inquietos e repensarmos nosso papel na mudança desta cidade. Para que não continuemos sendo o combustível dessa máquina de banalização do erro.
Há, por outro lado, a opção pela hipocrisia, seguir fingindo que O NATAL, comemorado em apenas um mês, vai trazer para o município consciência e que o NOVO ANO, da noite para o dia, será próspero e cheio de alegria.
Atilon Marinho, cronista pauloafonsino.




