Governabilidade é a palavra mágica que se traduz por cinismo, desfaçatez, falta de vergonha e pelo definitivo enxovalhamento daquele partido que nasceu às portas das fábricas do ABC paulista, lustrado pela intelectualidade e pela Igreja Católica, através das comunidades eclesiais de base, que surgiram à sombra do Concílio Vaticano II, em 1965.
Uma legenda que tinha um barbudo com um dedo a menos na sua liderança acenando com uma estrela, uma bandeira vermelha e propondo ética e mudança na política brasileira.
Governabilidade, na verdade, é o codinome de José Sarney, o senador que se agarra às barbas de Lula para ficar na presidência do Senado, para evitar que as investigações possam mostrar o Senado Federal, tal como ele é, enquanto Lula se pendura nos bigodes do coronel maranhense.
Lé com cré. Irmãos siameses e de tudo o que se imaginava que poderia ser banido da política brasiliana.
Caiu o pano, caiu a máscara, ficou a careta horrenda do atraso misturado com a mentira, enquanto o Brasil continua caminhando por suas beiras malcheirosas, onde o que vale é o poder, a troca, a avacalhação, a emasculação.
Um não vive sem o outro. Por trás, o PMDB bem fornido, recebendo graças e obséquios, além dos mimos protegidos em atos administrativos secretos, enquanto a parentada passeia no caminho do bosque de mãos dadas com a do lobisomem, Agaciel Maia, típico produto maranhense “made in Brasília”. Levem todos para o Torto! Foram, então, para o Alvorada. Ao jantar entre o presidente e a bancada do PT no Senado, que já tinha decidido, e comunicado, além de divulgado, que era a favor do afastamento provisório do presidente do Senado, enquanto se realizariam as investigações. Uma decisão de sete senadores numa bancada de 12. Não conseguiu se equilibrar 24 horas. Lula, comandante-chefe da sua tropa sem força, brancaleone típica, deu a contraordem. O “volta mula”, como ordenavam os tropeiros nas matas dos cacauais baianos.
A bancada está em dúvida sobre obedecer, ou não, à ordem de comando. Murcharam, a princípio, as orelhas, transmudaram-se em tapetes, e, então, Sarney, que ameaçara renunciar e criar uma “crise de governabilidade” se apascentou. Sabe que está protegido com o santo escudo de Lula. Nada de anormal numa conversa entre os dois, entre Sarney e Luiz Inácio, na sexta-feira.
Um sopro de sobrevida à permanência no cargo pelo maranhense.
Presidentes de poderes, do Executivo e do Legislativo, iguais, ambos com a mesma língua, ambos integrados em ideias e projetos, sócios de um feudo que não se moderniza e de instituições falidas e severamente corruptas.
Os petistas ficaram péssimos na crise, com a responsabilidade de respaldar José Sarney. Tensos, desnorteados, manietados, enquanto a oposição assistia à agonia de um partido e a cidadania põe a mão no queixo e observa, embasbacada, para a principal Casa do Legislativo, soterrada por lixo para todos os gostos.
Mesmo assim, com a conversa com Lula, alguns senadores petistas não estão convencidos que devam segurar Sarney.
O “dia
Na noite de sexta-feira, Mercadante percebeu que seu discurso foi de muita entrega e recuou para a primeira posição, favorável ao afastamento do coronel.
Ponderou, esperneou, ameaçou entregar o cargo de líder do partido no Senado. Deu a louca no PT.
O argumento que o presidente usou para convencer a sua bancada é mais político, mais partidário, do que o patriótico. Disse ele que a renúncia de Sarney pode gerar uma “crise gravíssima”.
Nada. O Brasil e a sua democracia são mais fortes. Se Sarney renunciar, o que acontecerá? O vice (que é tucano) assumirá por poucos dias, convoca-se uma nova eleição e se elege um novo presidente, que bem pode ser Garibaldi Alves, que assumiu como tampão em lugar de Renan Calheiros e não fez feio.
O problema é bem outro. No discurso, o presidente Lula derrapou para a verdade que traz no peito: Sarney é o magnífico do PMDB. Detém no partido uma força extraordinária e o PT necessita do PMDB, como os seres vivos necessitam do oxigênio. Sem o partido na sua aliança, o PT corre o risco de nem entrar em campo para disputar com Dilma Rousseff a sucessão presidencial do próximo ano. Assim, a prioridade é o poder.
Dilma arrematou que precisa dos peemedebistas. Sarney é o coringa que, com a renúncia, pode mudar tudo e levar a sua tropa para onde desejar. Não a leva inteira, porque a legenda sempre foi dividida, mas, depois da redemocratização do País, com o fim da ditadura, o PMDB banqueteouse à sombra do poder. O PT resolveu dengar a crise mais um pouco e pretende fazer nova reunião da bancada, a quarta delas, na próxima terça-feira, para tomar uma decisão definitiva. Seguramente, aguarda novos fatos envolvendo o personagem da crise, como a mansão do Lago Sul que o maranhense não declarou à Justiça Eleitoral. Por esquecimento.
Uma bobagem que vale R$ 4 milhões, comprada ao banqueiro Joseph Safra. Sarney está ficando ruim de memória. Esquece até aonde mora. Em nota oficial, afirmou que foi erro do contador. Suas declarações de bens à Justiça Eleitoral desmentem.
Governabilidade é a palavra mágica que se traduz por cinismo, desfaçatez, falta de vergonha e pelo definitivo enxovalhamento daquele partido que nasceu às portas das fábricas do ABC paulista, lustrado pela intelectualidade e pela Igreja Católica, através das comunidades eclesiais de base, que surgiram à sombra do Concílio Vaticano II, em 1965.
Uma legenda que tinha um barbudo com um dedo a menos na sua liderança acenando com uma estrela, uma bandeira vermelha e propondo ética e mudança na política brasileira.
Governabilidade, na verdade, é o codinome de José Sarney, o senador