28 de março de 2024

Faltam 7,3 mil professores nas escolas baianas

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Governo investe em tecnologia de ponta nas escolas, mas falta o básico

A proposta arrojada da Secretaria de Educação da Bahia (SEC) para promover a melhoria da qualidade da educação, colocando um monitor educacional por sala , encontra entrave na necessidade mais básica de qualquer escola: o professor. Segundo a SEC, a rede estadual de ensino possui hoje 50.371 professores, e tem uma carência de 7.310 profissionais, o que equivale a 14,5% do atual corpo docente.

Das 7.310 vagas a serem preenchidas, 2.370 são de professores substitutos, ou seja, aqueles que ocupam o lugar de colegas em licença prêmio, licença maternidade ou afastados por problemas de saúde. Por meio de nota de esclarecimento, a SEC informou já ter solicitado ao Comitê Gestor de Política de Pessoal (Cope) autorização para contratação dos mais de 7 mil professores em falta.

Enquanto isso, a carência tem sido alvo de protestos pela cidade. Na terça-feira passada, alunos da Escola Estadual Edvaldo Brandão Correia, em Cajazeiras IV, fizeram passeata reclamando da  ausência de docentes. O mesmo motivo levou às ruas, na quarta-feira, alunos de escolas públicas de Paripe. Cerca de 100 estudantes de escolas da região do Cabula já haviam feito manifestação também no dia 27 do mês passado.

Casos –  Escolas como a Maria de Lourdes Parada Franch, no Pau da Lima, também são exemplo dessa defasagem. Lá, conta um professor indignado, que prefere não dizer o nome, todas as salas estão dotadas de TVs Pendrive. Em compensação, faltam 20 professores. No ensino fundamental matutino, só há três professores.

Por causa de um aumento de demanda pela quinta série, segundo o educador, foram criadas oito novas turmas. Elas deveriam ocupar um imóvel anexo a ser alugado. “Até agora, não concluíram o processo de locação. Para essas crianças, o ano letivo começou ‘de direito’, mas não de fato. Os pais vão na escola cobrar. Isso gera violência porque os meninos ficam ociosos”, desabafa.


Ociosidade, aliás, retrata bem a situação de um grupo de quatro alunas da Escola Estadual Ministro Aliomar Baleeiro, em Pernambués, na última terça. Antes das 9 horas da manhã, colegas da oitava série conversavam do lado de fora dos muros do colégio. As aulas que deveriam terminar ao meio-dia estavam suspensas porque os professores de português, artes, matemática e física haviam faltado. “Física ainda não tem nem professor”, destaca Rebeca Santos, 16 anos.

Todas as salas, contudo, afirmam, receberam a TV Pendrive. “Está lá. É de enfeite”, disparam, garantindo que o equipamento não foi usado em nenhuma das aulas que tiveram desde o início do ano. A direção foi procurada, porém, sem permitir o acesso da imprensa à escola, um vigilante informou que as diretora e sua vice não se encontravam.

A ausência de docentes também é sentida no Colégio Mestre Paulo dos Anjos, no Bairro da Paz, onde estudam cerca de 1.500 pessoas. Segundo o professor Jayme Nobre, tem turmas em que estão faltando de cinco a seis professores. E, até agora, não há previsão para regular o ensino. “O professor é insubstituível, mas em todas as escolas, praticamente, estão faltando docentes”, lamenta Nobre.

Luana Reis, 17, aluna do colégio Vera Lux, em Nova Brasília, conta que tem tido nada mais do que cerca de duas aulas por dia, ficando o restante do período ocioso. “A gente só tem uns quatro professores. Estão em falta na maioria das disciplinas”, conta. Para a jovem, é incoerente ter uma TV Pendrive instalada em sala de aula, nessas condições: “Não tem professor, não tem livro, e a televisão está lá. É o mesmo que não ter nada”.

Sindicato –  Para Rui Oliveira, primeiro secretário do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB), as novas tecnologias são bem-vindas. Ele, contudo, ressalva que a falta de professores, especialmente em cidades do interior, a carência de funcionários e a violência, são problemas mais básicos que precisam de solução.

“Muitas escolas, principalmente do subúrbio de Salvador, são invadidas nos finais de semana. Esses equipamentos ficam vulneráveis”, diz Oliveira. Ele também destaca o fato de que um contingente expressivo de professores não possui computadores e acesso à internet. “Não há uma política estadual articulada que garanta ao professor acesso subsidiado à tecnologia na sua própria casa. Os alunos também precisam desse acesso. O computador da escola fica na sala do diretor”, observa.

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