Confesso que cai em gargalhadas quando minha prima, Maíra Galindo, contou-me sobre a última peripécia de vovó. Ao ser levada ao médico para exames rotineiros, ela saiu com a seguinte deixa: “olha doutor, meu neto será médico igual ao senhor. Ele é estudioso assim por que eu ajudei a criá-lo”. Aquela atitude tão sincera, tenho certeza, arrematou diversos sorrisos da equipe médica, ao passo que corroboraram o apreço inimaginável que essa mulher tem por esse jovem escritor.
Passadas duas semanas desde o relatado fato, Dona Eudócia lindamente completou 80 anos. Apesar da idade avançada e da mente um tanto calejada que, vez por outra, insiste em falhar, ela mantém preservadas a altivez e a ternura que sempre lhe foram peculiares. Essa paraibana de Patos, adotada com imenso carinho por Paulo Afonso há mais de 50 anos, tinha mesmo que completar primaveras em 08 de Março.
Ainda me lembro, com um tanto de nostalgia, quão prazeroso era passar as tardes na casa dela em época de férias. Junto com todos os primos, fazíamos uma verdadeira revolução acalentados por carinho e diversos cafunés. Apesar de que só eu tive o privilégio de, até os nove anos, receber afagos em tempo integral ou acordar com o ruído pitoresco daquele Fusca cor de abóbora que ela, tão apressadamente, guiava. Uma frase que nunca saiu de minha cabeça foi quando meu herói – Nando – ao reclamar da intensidade de mimos que vovó me oferecia, disse que amor de vó era igual ao canto de um sabiá: intenso e sem compromissos.
Querida vovó, a vida atarefada e conturbada desse seu neto, que um dia há de ser médico, impediram-no de estar ao seu lado nesse momento singular. Mas, tenho certeza de que, apesar de estar há alguns quilômetros e diversas histórias longe da senhora, meu lugar em suas orações e na estufa de carinho que ora pulsa em seu coração estará sempre reservado. Aceite, como consolo, a confirmação de que a senhora, juntamente com Dona Mariêta e Ivoneide Bacôca, sempre comporá o trio parada dura responsável por embalar os sonhos do “eterno menino” que habita em meu ser. E eu, cá do meu canto, na Aracaju tão acolhedora, lembrarei sempre das 03 Marias, cada vez que uma brisa calorosa e acolhedora soprar advinda do sertão. Feliz Aniversário.
João Carlos
Alameda das Árvores, Aracaju, 10 de Março de 2012