A poesia é a mais antiga e primordial expressão da humanidade. Mesmo antes de falar e escrever, o ser humano já exprimia o sentido poético do mundo. Primeiro a poesia em suas múltiplas manifestações artísticas, depois a poesia em sua forma material-verbal de poema. No ocidente ou no oriente, entre homens e mulheres, ricos e pobres, intelectuais e populares, em quaisquer ambientes sociais, culturais ou religiosos, a poesia sempre teve seu lugar de merecimento. E o poeta sempre habitou o seio da sociedade, reconhecido ou marginalizado, mas sempre um fatalizado pela poesia, como diria nosso modernista Mário de Andrade.
Comemorar o Dia Nacional da Poesia é também relembrar o nascimento de um grande poeta brasileiro-baiano que faz parte da história cultural e do turismo pedagógico de Paulo Afonso. No dia 14 de março de 1847, nasceu na Bahia o vate romântico Castro Alves, o gondoleiro do amor. Duas fortes referências ao poeta existem em nossa cidade: a escultura O touro e a sucuri, monumento inspirado na obra “A cachoeira de Paulo Afonso”, publicada postumamente em 1876; e a própria estátua de Castro Alves lá na Ilha do Urubu, dentro da Chesf.
Desta maneira, a bela cidade de Paulo Afonso e o condoreiro Castro Alves sempre estiveram sintonizados pela mesma energia poética de forte caráter ambientalista que foi gerada pela palavra lírica em sua mais verdadeira fonte de plenitude. A paisagem e o homem, as belezas naturais e a preocupação ambiental e social foram temas explorados por todos os grandes poetas universais.
Comemorar o Dia Nacional da Poesia é também festejar nossa capacidade de sensibilidade, nossa atração nobre pelo Belo, nossa busca pelo mágico, nossa romaria em busca da origem da criação, nossa possibilidade de ouvir músicas em silêncios aquáticos, nossa intenção humana de encantamentos múltiplos, nossa feição pelas coisas simples e profundas e, acima de tudo, nossa potência de Ser.
Por isso, desejo que neste Dia Nacional da Poesia todos nós, poetas, leitores, educadores, humanos, possamos homenagear algum poeta universal vivo ou morto. Homenagear da melhor maneira possível: lendo seus poemas. Recitando em voz alta para que todos os homens e mulheres ouçam a “outra voz” que emana desde os tempos primordiais. Ouçamos o poeta abolicionista:
Fecundando a multidão
Num poema amortalhada
Nunca morre uma nação.
(Castro Alves, “O Livro e a América”)
Cleberton Santos, poeta, professor do IFBA, pesquisador de Literatura e Meio Ambiente.