A dúvida é se a gente se mete ou não em briga de cachorro grande. Lendo o livro Diplomacy, de Henry Kissinger, vi que os governantes, mais do que a gente pensa, seguem conselhos de colunistas. Eles leem e bebem as nossas ideias porque as sabem despojadas das nuanças da briga política; sabem que são o melhor para o povão.
[Pior para nós que] no caso da greve dos policiais do Estado da Bahia, eles têm razão; porque não têm pão. Como não ter razão se grande parte do salário vai embora só em passagens de ônibus, principalmente na capital? Pessoas que arriscam a vida para vida nos assegurar, delegados que coordenam a nossa segurança, deveriam ganhar mais. Dinheiro realmente não é importante. Importante é a dignidade que ele propicia para os policiais e para suas famílias. O princípio se aplica a todos nós outros.
Quem tem noção de sociologia é capaz de prever com certa segurança a explosão que está para vir. Podemos prever a expansão da greve para outros lugares do país. Já havia explodido no Maranhão. Certas tensões sociais simplesmente não podem ser contidas com o empurrar da barriga, a mesma barriga que grita de fome.
O governador aponta ganho real de 35% em dois anos. Deve ser verdade porque vemos a sua angústia e a sua honestidade. Não vi os grevistas refutarem esta afirmação. O que concluímos é que eles consideram o avanço apenas como simples redutor da miséria; ainda miséria, que continua miséria.
No Brasil sexta economia do mundo, no Brasil do pré-sal (10% do petróleo da Petrobrás já saem do pré-sal), no Brasil das exportações para a China, como esperar que policiais se resignem com salários de fome? Só poderíamos esperar – e apelar para – um pouco mais de paciência se o PIB (Produto Interno Bruto) estivesse crescendo na rapidez de 10% para cima ao ano. O que o meu nobre leitor acha que está segurando a China em um só bloco senão o crescimento econômico? O leitor sabe que as guerras surgem quando as tensões se tornam insuportáveis. O canhão resolve os problemas com o vencedor impondo a sua vontade sobre o vencido e tudo continua como antes.
O governador Jaques Wagner diz que não pode dar mais que 6,5% de aumento. Acreditamos nele. Acreditamos porque sabemos que grande parte da arrecadação do estado – bem como das cidades e do país – vai simplesmente para o pagamento de juros. Meteram o Brasil em buraco sem fundo onde toda a arrecadação serve apenas ao pagamento de juros. Se pagamento de juros é salutar, se endividamento esquenta a economia, se todo e qualquer investimento tem que ser financiado (a juros indecentes), então perdemos a razão. Se isto é economia, melhor se aconselhar com o quitandeiro da esquina. Países que perderam esta razão estão endividados e humilhados perante a comunidade das nações. Vamos chegar lá. Chegaremos sim. Estamos chegando e a greve atual dos policiais da Bahia é sintomática.
Até parece que os nossos políticos sentem falta do regime militar. O golpe de 1964 nada mais foi que a reação dos militares aos desmandos e ao descontrole dos governos de então. O leitor sabe que os militares não intervêm. Sabem que são solicitados a intervir.
Agora recorro ao meu nobre leitor para saber como devo encerrar este artigo. Penso que alguns gostariam que eu pedisse um pouco mais de paciência aos companheiros fardados. Acho que alguns recomendariam mais confiança no sistema e nos companheiros eleitos do Governo e do Congresso Nacional. Imagino até que alguns considerem que os policiais até ganham bem em um país onde o salário mínimo passa um pouco dos R$600,00 (seiscentos reais).
Como encerrar?… Convocar a todos para um grande entendimento nacional, sentar na mesa e sermos todos sensatos; todos dispostos a algum nível de renúncia. Outra solução? Gostaria de saber. Pena que não tenhamos um Churchill, um Roosevelt, um Getúlio Vargas de pé no chão, um Tito unificador, um Mandela pacificador ou um Deng Hsiao Ping reformador; mais para trás, um Adriano sedimentador.
Francisco Nery Júnior