20 de dezembro de 2025

Francisco Nery Júnior: Salvador 470 anos – o início do Brasil

Por

REDAÇÃO - PA4.COM.BR

Foto: Divulgação.



 

 

No início, tudo ia bem. Feitas as ressalvas, ia bem. Nossos bravos avós (bambambãs da navegação) saíram de Portugal em verdadeiras cascas de nozes e aqui aportaram as esperanças de um Brasil forte, tão forte que D. João VI, bem mais para cá, após cerca de doze anos de paraíso tropical, voltou na marra para Portugal para não perder o trono. Tive a felicíssima oportunidade de visitar o local, a cerca de 40 quilômetros do centro Lisboa, de onde saíam os nossos heróis. Olhei e contemplei o mar profundo e assustador rumo ao Brasil. Como em transe, na minha cabeça rolaram algumas páginas da História do Brasil. Dali só podiam sair heróis! Vieram em busca de aventura, de futuro e de dinheiro. Nada mais natural. Muitos pereceram.

 

Em 1549, saiu Tomé de Souza, primeiro governador-geral, para fundar a primeira cidade, a primeira capital. Desceu bem ali no Porto da Barra onde nos banhamos todos os dias, nós e Caetano Veloso. Subiu as encostas providenciais para a futura defesa e, em 29 de março, iniciou a construção de Salvador bem ao lado de Castro Alves de mãos estendidas e no início da Rua Chile, Rua dos Mercadores entre outros nomes anteriores até 1902. Diferentemente do concreto armado da formidável Brasília de Oscar Niemeyer, casas e palácios de taipa, argamassa de barro sustentada por tiras de madeira da colossal Mata Atlântica. Nascia o Brasil.

 

Carece entretanto lembrar ao leitor que o descobrimento oficial data de 1500. Pedro Álvares Cabral entrou em um porto seguro no sul da Bahia e fincou as primeiras estacas portuguesas na nova terra. Os índios, os índios da Bahia, deram aos portugueses um banho de recepção. Alguns foram mesmo levados a bordo de uma das embarcações de Cabral. Foram úteis na tarefa de reabastecimento das caravelas e ensinaram aos portugueses a delícia de um banho tropical e a pureza da nudez. Cabral seguiu para as Índias e aqui deixou dois degredados que, com mais dois desertores expertos, iniciaram a miscigenação do Brasil. Vale a pena o leitor acessar a carta de Pero Vaz de Caminha. Vale a pena.

 

Hoje, a multicentenária Salvador nos altos e baixos das suas veredas. Baianos de todos os matizes na luta infernal – e às vezes inglória – da sobrevivência, a maioria vivendo em verdadeiras favelas hipocritamente chamadas de bairros. Alguns mais em nominadas comunidades onde de comum só o abandono e a miséria. Os ônibus de Salvador foram transformados em verdadeiras feiras ambulantes. Vende-se de tudo nos ônibus de Salvador. Em pé, servimos de apoio aos irmãos desvalidos. Sentados, servimos de base para os seus tabuleiros. Não reclamamos! Estoicamente, nós outros ainda detentores de uma carteira assinada ou de uma aposentadoria ameaçada não reclamamos. Nós os apoiamos. Compramos. Pagamos e muitas vezes deixamos o troco.

 

Que mais, leitor, agora neste novo parágrafo, poderíamos fazer? Eles fazem o que podem. Não roubam nem assaltam (assaltante nunca foi sinônimo de pobre). Sujos e esgotados imploram a nossa atenção. Desenvolvem técnicas de oratória e astúcia comercial para nos convencer. E se dão bem! Os nossos corações não conseguem resistir.

 

Enquanto isso, nos cantos do poder e nos nichos de privilégios do país, todo o esforço da arrecadação nacional desce por água abaixo e os políticos travam a insana briga de ego na disputa pelos holofotes e pelo poder.

 







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