Francisco Nery Júnior: O Brasil descendo a ladeira – o presidente inseguro

O presidente Jair Bolsonaro parece ainda não ter acordado do sonho. Mostra-se errante e inseguro. A toda hora precisa de tutores ou preceptores para lhe corrigir o rumo e atenuar as frases infelizes. No encontro com Donald Trump, na Casa Branca, parecia um aluno peralta no gabinete do diretor (no tempo em que o aluno respeitava o diretor). A seu lado, o filho a se deleitar com o encontro no Salão Oval.

Bolsonaro parece não enxergar na China e em outros países o que nós outros enxergamos. Alinha-se a Trump louvando as suas idiossincrasias como se estivesse jogando a última cartada. Os americanos são nossos amigos tradicionais, nossos vizinhos e parceiros, e assim desejamos tê-los. Mas também amamos os chineses. Respeitamos a sua milenar sabedoria e apreciamos a sua tradicional paciência. A nossa amizade com a China, com seu um bilhão e trezentos milhões de habitantes, independe do seu sistema político e da sua ideologia. Seria o caso de a situação fiscal do país estar desconcentrando o presidente? A bíblia afirma que o sábio perseguido faz bobagens. Seria o caso?

O Governo Federal paga bilhões de reais de juros da dívida pública a cada ano (mais de 200 bilhões segundo a maioria das fontes). Isso significa um Plano Marshall, que reergueu a Europa no final da Segunda Guerra Mundial, por ano. O governo de Minas Gerais parcela salários, os viadutos em São Paulo apodrecem e caem e o governo da Bahia eleva a contribuição dos servidores e reduz o aporte ao Planserv (plano de assistência do servidor). Citamos três dos cinco estados mais ricos do Brasil. Seria esse roer beira de sino que está desequilibrando o presidente?

Do Maranhão, um deputado do PSD sonha com um porto essencial para o desenvolvimento do seu estado e um senador do PT clama por justiça social. Têm fome e sede de justiça, mas vão demorar um pouquinho – na realidade um tempão – para verem a Deus. Enquanto só restarem 2 ou 3% da arrecadação nacional para investimentos, vão esperar muito tempo para verem os seus sonhos realizados.

A situação de penúria das contas públicas dos governos federal e dos governos estaduais obriga os nossos juízes a procrastinar a aplicação das leis. É flagrantemente o caso de a jurisprudência estar acima da lei. Como o Supremo Tribunal Federal emitir uma liminar contra o parcelamento de salários em alguns estados se eles estão quebrados?

O presidente Bolsonaro se elegeu nos prometendo reformas. Os presidentes da Câmara e do Senado demonstram compreender a necessidade delas. O presidente ergueu a lança e levantou o escudo. Começou com a reforma da previdência que já começa a ser desfigurada no Congresso Nacional. Os lobbies não se acovardaram como pensávamos. Os mais de sessenta por cento de aprovação popular do presidente não os intimidaram. Todos querem mudança, mas quase ninguém que perder privilégios. Mexer com os pobres é mais fácil. Fernando Henrique, por exemplo, desprezou a contribuição dos trabalhadores, para efeito de cálculo da aposentadoria, de 1997 para trás. Agora com a boca fechada pelo resultado das urnas, folga nababescamente no seu apartamento de Paris.

Provavelmente teremos um arremedo de reforma da Previdência. A reforma política, a mais importante das reformas, ninguém fala dela. Continuamos em queda livre rumo ao precipício. Os privilégios criminosos permanecem para os encastelados nos nichos de poder. Teremos então, como solução de desespero, a reedição dos acontecimentos de 1964? Os militares serão novamente convidados a intervir? A maioria desesperada os convocará? Farão apenas uma intervenção cirúrgica como defendia a ala liderada pelo marechal Castello Branco? Cumprirão apenas o papel constitucional a eles reservado? A quem ou a que o povo decepcionado recorrerá?

Francisco Nery Júnior