O que faz com que a vida valha a pena quando se está velho, fragilizado e incapaz de cuidar de si mesmo? Atrás dessa resposta fiquei algumas horas na Casa de Repouso São Vicente de Paulo ‘Vicentinos’, no bairro Perpétuo Socorro, em Paulo Afonso, na tarde desta quinta-feira 31, acompanhando a rotina das pessoas acolhidas por lá, conversando com os administradores e com a assistente social Fabiana Pereira.
Cheguei na hora do lanche acompanhado a visita das legionárias ‘Legião de Maria’, que passam nos quartos, no caso da ala das mulheres entram batem um papo, perguntam como estão?, e conversam à larga, noutro, alguns jovens de uma escola pública conversavam com uma senhorinha animada para saber a hora da missa [acontece o Tríduo a São Vicente de Paulo, hoje temos a 2ª noite com dom Guido], e um voluntário faz a barba de um velhinho na ala masculina etc., a vida nos Vicentinos com o seu curso normal.
Chama atenção que mesmo aqueles que não se movem, presos à cama, ao nos ver expressam desejo do toque. São 31 pessoas, 18 homens e 13 mulheres, sendo que nem todos são idosos, e Fabiana explica:
“A Casa de Repouso sempre esteve ligada à Igreja, e a irmã Celina fazia a triagem, e acolhia pessoas para vir para cá, em situação de rua, abandono ou negligência, vinham todos; de 2011 para cá, quando houve algumas adequações aconteceu essa distinção para melhorar o serviço seguindo as leis que regem as casas de acolhimento para idosos.”
Desde então, nos Vicentinos só idosos a partir de 60 anos, e que não tenham problemas psíquicos [pois não existe o serviço de psiquiatria], além de obedecer alguns problemas de ordem social como abandono, por exemplo, está com o vínculo familiar rompido ou negligência.
A assistente social explicou ainda que a Casa vive um momento de transição, pois aconteceu uma nova eleição para a diretoria que irá assumir em novembro, e como são gerido os recursos dos idosos, seguindo orientação do Ministério Público e Estatuto do Idoso, a Casa administra 70% da aposentadoria [há casos em que o idoso não é aposentado] e esse recurso é para pagar funcionários entre outras despesas, e 30% para uma conta do idoso, uma reserva.
“Cada idoso tem uma reserva, pois há remédios e tratamentos que não são viabilizados pelo SUS, e com essa reserva se paga um dermatologista, compra-se óculos, paga um exame”, explica Fabiana e acrescenta: “Todos mês compramos remédio, e há os casos que a imunidade do idoso está muito baixa e precisa de internação, então pagamos a um acompanhante porque a família não pode, ou porque estuda, ou trabalha enfim, sendo que a família que nos permite administrar essa reserva pode acompanhar junto ao setor financeiro como andam os gastos.”
A ajuda da sociedade
A prefeitura municipal é o grande parceiro dos Vicentinos, vem a igreja e muitos outros como escolas públicas e privadas, faculdades e o povo. Sem esta colaboração é certo que não seria possível manter a Casa de Repouso, há contudo, uma demanda que não depende de recurso: o afeto.
“Nós temos o projeto ‘Adote o idoso’ então você vem conversa, joga um dominó, leva no jardim para passear, venha trazer uma palavra, sua presença, porque quando a gente dá atenção ao idoso isso instiga ele, e qualquer pessoa pode fazer, a gente precisa e gente quer muito”, concluiu Fabiana Pereira.
Água e energia nos Vicentinos custam 9 mil reais por mês.
Recentemente o comandante do 20º Batalhão, Carlos Humberto, representando à Polícia Militar, Juliana Fontes, Polícia Civil e o major Kauê, Exército, doaram alimentos e produtos de higiene e limpeza para a Casa, estes são as maiores necessidades, também para quem quiser doar. “A chefe de gabinete do prefeito Luiz de Deus, Cintia Santana, veio e já levou o carro que estava quebrado para consertar, temos muitas dificuldades, mas também graças a Deus um povo que nos ajuda muito”, disse dona Iracema.
Agradecimentos
A Casa de repouso agradeceu toda mídia que sempre divulga os eventos dos Vicentinos: sites, rádio, blogues, jornais e ao sair de lá achei que tudo, o bom e o ruim, compensavam, viver compensa em qualquer situação.
