“A decisão de Brasília atinge os interesses da região, especialmente de uma das maiores produtoras de energia elétrica do país”, diz Luiz de Deus. O parlamentar ressaltou que as decisões estratégicas para o Nordeste não serão mais tomadas pela Chesf na sede em Recife, mas pelos técnicos da Eletrobras no Rio de Janeiro. “Terão eles a mesma preocupaão com o Nordeste?”, questionou Luiz de Deus.
O parlamentar destacou ainda editorial publicado hoje na imprnesa baiana do jornalista Clementino Heitor de Carvalho, intitulado “A Bahia e o desmonte da Chesf” , que reflete o sentimento dos baianos em relação a empresa. “O que virá depois? Há quem já se preocupe com o destino do BNB, em seguida a uma Sudene de faz-de-conta recriada apenas no papel, e com outros sinais visíveis no pouco caso com o reassentamento de Itaparica e o Instituto Xingó, este criado para ser a matriz tecnológica do sertão”, afirma Clementino Heitor de Carvalho em seu texto, citado por Luiz de Deus. A seguir, íntegra do artigo destacada pelo parlamentar.
A Bahia e o desmonte da Chesf
Por Clementino Heitor de Carvalho – Jornalista
O governador baiano esteve em Paulo Afonso no dia 23 de março, 24 horas após a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco ter sido rebaixada à condição de acessório da Eletrobrás. A visita de Jaques Wagner, com sua comitiva, teve por objetivo inaugurar 84 vagas no Presídio Regional e entregar 15 viaturas para as polícias Civil e Militar. Mas o que despertou curiosidade foi a expectativa em torno do que se ouviria de Wagner e dos seus acompanhantes a respeito da mudança de status da maior empresa do Nordeste. Mas ninguém tocou no assunto.
Segundo o editor de economia do Jornal do Commercio, Saulo Moreira, ela foi “transformada numa espécie de escritório, um apêndice da Eletrobrás, sua controladora”, e as “decisões estratégicas para o Nordeste não mais serão tomadas pela Chesf na sede do Recife e sim pelos técnicos da Eletrobrás no Rio de Janeiro”. No artigo Eles concordaram ou apenas se omitiram?, já uma pergunta, o jornalista pernambucano formula outra: “Terão eles (os técnicos da Eletrobrás) a mesma preocupação com o Nordeste?” Eis aí duas interrogações centrais para respostas indicativas do que ainda se pode fazer para preservar a companhia, sempre uma formuladora de projetos de desenvolvimento para o Nordeste, a exemplo do Protocolo de Cooperação BNB-Chesf para ações em 29 municípios localizados entre as usinas de Itaparica, Paulo Afonso e Xingó, no Submédio e Baixo São Francisco, espaço disponível para a Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento com polos na Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, a ser criada por lei complementar.
O silêncio da caravana Wagner em Paulo Afonso foi de concordância (quem cala consente) ou de simples omissão? Quanto à segunda pergunta, rezemos a São Francisco para que ela nem precise ser feita. Quanto ao silêncio baiano, a explicação não pode tardar e terá peso na campanha eleitoral. E é de esperar-se o barulho concertado da resistência extrapartidária.
O difícil de entender é a reação do governador de Pernambuco e presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro. Foi ele quem indicou Dilton da Conti para presidir a empresa e dois dos seus cinco diretores, ficando duas outras diretorias para o Partido dos Trabalhadores. Na linha do “eu não sabia” presidencial, Eduardo Campos disse que ainda vai “se inteirar do assunto”.
Para tanto, pedirá audiência com o ministro das Minas e Energia, Edson Lobão, a fim de que “os governadores do Nordeste tomem conhecimento do que está ocorrendo”. Ocorrendo pelo menos desde 2008, quando o presidente da Eletrobrás, José Antônio Muniz Lopes, começou a apresentar aos funcionários da Chesf o chamado “plano de transformação”, por meio de teleconferência, também transmitida às unidades regionais da estatal. Vale lembrar que Muniz Lopes, ao tomar posse, chegou a anunciar que iria fazer, como presidente da Eletrobrás, o que não conseguiu como presidente da Chesf: investir na região os lucros da companhia.
Após o puxão de orelha inicial que o fez, de novo, deixar o dito pelo não dito, engajou-se no processo de desmantelamento da Chesf, agora condenada ao repasse de todos os novos empreendimentos como um ativo para o patrimônio da Eletrobrás. Proibida de crescer e sem a sua marca, após 62 anos de existência, passando a sobrenome da Eletrobrás de quem se tornará capataz, por exemplo, na Nicarágua. Há quem já se preocupe com o destino do BNB, em seguida a uma Sudene de faz-de-conta recriada apenas no papel, e com outros sinais visíveis no pouco caso com o reassentamento de Itaparica e o Instituto Xingó, este criado para ser a matriz tecnológica do sertão.
Jaques Wagner, em meio às lições sobre a Cartilha de Lula, declarou, em Paulo Afonso, que “não é preciso ler jornal” para conhecer a realidade. Nem por isso – bem pelo contrário – a imprensa deve abrir mão do seu dever de mostrar o que está se passando com a Chesf e os riscos de o Nordeste semiárido se tornar um deserto institucional, refém do discricionarismo e do assistencialismo sem porta de saída, ambos com a marca do autoritarismo, esta sim e não a da Chesf, a marca que deve ser substituída por outra compatível com os valores da democracia.




