18 de dezembro de 2025

Continua a destruição de sítios arqueológicos em Paulo Afonso

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A Universidade do Estado da Bahia, no dia 22 de maio de 2009, viveu um dia de muitas comemorações e avanços por ter inaugurado o novo Museu a Céu Aberto de Artes Rupestres. Este museu tem por objetivo preservar os mais de 100 sítios arqueológicos da região e dar acesso as pessoas a um pouco da história dos povos indígenas do Nordeste, particularmente  os grupos pré-coloniais de mais de nove mil anos atrás. O projeto é fruto de uma parceria entre a Secretaria do Meio Ambiente (Sema) e a Universidade do Estado da Bahia (Uneb).


 


Anteriormente ao Museu a Céu Aberto, as artes rupestres, códigos visuais pintados por grupos originários da Bacia do São Francisco, em rochas situadas no platô do cânion do Velho Chico, bem próximo ao local onde foi implantada o complexo hidrelétrico de Paulo Afonso, estavam sendo destruídas pela comunidade local, extratores de granitos para confecção de paralelepípedos para calçamentos de ruas e outros usos da construção civil. “Temos registros de que, desde 1950, a partir das demandas para estruturar o Acampamento CHESF e a construção do Bairro Munlungu, onde foram colocadas/jogadas as famílias impactadas das hidrelétricas de Paulo Afonso, que esses sítios são alvos desse processo de destruição. Essas ações têm destruído nossa memória, sem ao menos conhecê-la”, disse o Professor Dr. Juracy Marques, diretor do Departamento de Educação do Campus VIII, da Uneb.


 


A arqueóloga responsável pelas pesquisas no local, Dra. Cleonice Vergne, diz que “chegamos no limite: tanto das possibilidades da preservação do contexto  ambiental onde estão inclusos os sítios quanto humano, em virtude das formas de violências reais se simbólicas que vem sofrendo os pesquisadores.” Para ela “tornou-se impossível continuar pensando em preservar esse patrimônio, caso não haja uma intervenção estrutural para resolução dessa problemática que envolve a vida das famílias e a conservação das pinturas rupestres”. Afirma: “Não temos mais tempo. Hoje está nas mãos da Procuradoria Geral da República, decidir esse impasse, uma vez que os poderes públicos e privados não têm se empenhando para isso.”


 


Antes, como alternativa e inspirados na Serra da Capivara, foi implantado um Projeto Piloto de um Museu à Céu Aberto de Arqueologia. Porém, em outubro de 2009, surgiu uma nova preocupação para os arqueólogos e pesquisadores do Campus VIII da UNEB, pois começaram as ações de vândalos a destruírem o próprio Museu Escola.


 


Desmontaram a estrutura de um sítio inteiro, atirando com revólveres contra as placas colocadas nos locais e destruindo as proteções e passarelas de madeira colocadas em volta das pedras com as inscrições rupestres.


 


Após a ocorrência de tal fato, foram comunicadas várias instituições da região, dentre elas podemos destacar: o Ministério Público Federal, o Ministério Público Estadual, a Prefeitura Municipal de Paulo Afonso, o Governo do Estado da Bahia, a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (CHESF), dentre outras. Todavia, nenhuma das instituições fez alguma ação para proteger o Museu a Céu Aberto, para proteger todo um patrimônio histórico nacional localizado na região de Paulo Afonso.


 


Sendo assim, devido à inerte atuação dessas instituições, os vândalos agiram novamente, e agora em janeiro de 2010, acabaram de destruir a estrutura de mais um sítio do Museu a Céu Aberto, onde quebraram toda a passarela, as cercas de proteção e retiraram a placa de identificação do local, amassaram e atiraram sobre ela.


Apoio da comunidade Indígena local


 


No dia 23 de janeiro de 2010, as professoras Floriza Maria Sena Fernandes e Cleonice Vergne ministraram uma aula de campo no Museu a Céu Aberto para a turma da Licenciatura Intercultural em Educação Escolar Indígena – LICEEI. Nessa aula de campo participaram os povos indígenas Tuxá, Tumbalalá, Kiriri, Kaimbé, Pankararé, Xukuru-Kariri, entre outros, que ficaram encantados ao conhecerem o Museu e as pinturas do que reconhecem como “os desenhos dos seus ancestrais”. Todavia, ficaram extremamente tristes e estarrecidos pela destruição de tão belo e rico patrimônio histórico.


 


Sendo assim, os estudantes do LICEEI com um sentimento de “revolta”, por ver os símbolos que representam parte da história de seus antepassados sendo destruídas por vândalos e por ver a inércia de todas as instituições, se sentiram obrigados a fazerem um ofício pedindo ao excelentíssimo procurador Dr. Samir Cabus Nachef, que tivesse uma ação em resposta a esses atos de vandalismo que estão ocasionando na destruição de todo um patrimônio nacional da base da Cachoeira Sagrada de Paulo Afonso, hoje desativada pelas Usinas Hidrelétricas. Eles afirmaram que acreditam que o MPF tomará as providências necessárias.


 


No dia 27 de janeiro de 2010, todos os alunos do curso tiveram o prazer de irem ao encontro do Exmo. Dr. Samir Cabus Nachef e entregarem o pedido pessoalmente no SINERGIA, local onde o mesmo estava tendo uma reunião, com o Povo Tumbalalá e a Funai. O Procurador fez questão de vir receber o documento e ouvir pessoalmente do líder da turma, Sandro Tuxá, o conteúdo do mesmo. Ao término da leitura, os estudantes agradeceram ao Procurador, por ele ter o recebido e ficaram aguardando a resposta do Ministério Público Federal, como dizem os indígenas “não somente por palavras, mas sim por ações.”


 


Portanto, nós, comunidade unebiana, novamente perguntamos, o que faremos depois de 10 anos implorando para que os Poderes Públicos e Privados ajudem a proteger o patrimônio arqueológico de Paulo Afonso?


 


Tivemos novamente a mesma triste notícia da destruição de mais um sítio do Projeto do Museu Arqueológico de Paulo Afonso, conforme as fotos anexas.


 


Resta-nos, como sempre, lamentar e pedir aos órgãos competentes que atuem para preservar, pelo menos, os cacos!

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