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Mensagem enviada através do site em 24/1/2010 – 20h5m
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Nome: Aldson Miná
E-mail: aldsonm@gmail.com
Mensagem: CANGAÇO: PRÓ OU CONTRA?
Ninguém que ame essa terra pode negar a importância da união de todos os segmentos da sociedade pauloafonsina no sentido de nos tornarmos um destino turístico perene, não apenas em ocasião dos eventos festivos. Potencial há, pelas belezas naturais. O cânion – ou canyon, mais apropriadamente, já que é uma palavra inglesa- de Xingó não
deve nada a outras maravilhas da natureza desse Brasil. Só acho que ressaltar e tirar partido dessa nódoa na história do nordestino que foi o cangaço para promover a região é equivocada. Só faz corroborar a ideia que o sulista tem de nós: por aqui, todo homem é cabra macho, pavio curto e resolve-se tudo na base da peixeira! As terras de Paulo Afonso, apenas por uma simples questão de logística, foram palco de incursões dos bandidos do bando de Virgulino em um tempo em que não havia se implantado ainda a indústria da energia nem descoberto o potencial de suas cachoeiras.
O território sem lei no qual os cangaceiros vagavam saqueando e matando o sertanejo miserável que labutava na enxada de sol a sol pelo sustento por pura crueldade e fugindo da volante já não existe há décadas. A não ser na cabeça de alguns historiadores e cronistas, que, embora legitimamente procurem resgatar a história recente de nossa terra, no meu entender pecam em transformar simples banditismo, que hoje seria execrado, em motivo de orgulho para uma região, a ponto de achar que isso irá fomentar o turismo.
Que sociedade dita civilizada tornaria centro de atração turística a casa onde nasceu a mulher do ser mais temível e abominável que já arrastou suas alpercatas na poeira destes sertões? Seria uma premissa válida, desde que lhe fosse dada a devida importância: um simples ponto de referência histórica, no contexto dessa aberração social que foi o cangaço. Não vejo coerência em glamurizar a personagem.
A sedutora figura da bela morena de olhos negros e sorriso encantador com cartucheiras cruzadas no peito e chapéu de couro, tendo à mão uma espingarda, não combina em nada com as ideias de paz, desarmamento e convivência pacífica que os governos e os povos almejam nesse século. Além do mais, se a pesquisa fosse mais profunda, fatalmente descobriria que Maria Bonita estaria incluída na observação de Goethe tornada jargão popular – diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és. É meio difícil de engolir que Maria fosse esse doce de mulher que insistem em pintar, convivendo com a fera humana que era seu companheiro…
Sou filho de uma mulher que teve sua infância aterrorizada pela ameaça permanente das maldades perpetradas por Lampião, em suas andanças pelo interior de Pernambuco. Uma de suas mais vívidas lembranças é a ocasião em que, em uma viagem com familiares pelas veredas entre Águas Belas e Buique, no lombo de burros, ao se encontrarem com o bando, decidiram os facínoras simplesmente “passar fogo” em todos, mulheres e crianças incluídas. Foram impedidos por Maria Bonita, que entre risadas, vendo que a maioria eram mulheres e trajavam negro, deu a ordem: -“deixem elas(sic) em paz, não estão vendo que é um bando de viúvas? Não vai ter graça…”
Repito, essa é minha opinião estritamente pessoal. Não estou aqui querendo julgar o mérito da importância ou não do cangaço e seus protagonistas para o desenvolvimento do turismo em Paulo Afonso. Mas, de uma vez por todas, Lampião NÃO era um Robin Hood! Confesso envergonhado, porém, que ao assistir aquela minissérie da televisão (Lampião e Maria Bonita), cheguei a torcer pelos bandidos! E fiquei muito triste ao assistir a cena de sua morte em Angiquinho… Síndrome de Estocolmo? Teria sido minha razão sequestrada pelo encanto da fantasia da Globo?
Não é incomum nos solidarizarmos com marginais, desde que a sua saga seja enfeitada por seus biógrafos, que tentam justificar suas barbaridades por uma ótica social canhestra. Só Nils Bejerot, inventor da teoria, poderia explicar.
Aldson Miná





