Assessoria
PV
Sérgio Xavier
Zero acordo. Ou apenas um acordinho, ao apagar das luzes, muito aquém das expectativas e, sobretudo, das necessidades para conter o aquecimento global abaixo de 2 graus centígrados neste século.
Com o fracasso da COP15, mais do que nunca, a sociedade global precisa se mobilizar e continuar a eco-luta. Os partidos verdes serão ainda mais fundamentais para pressionar politicamente, lançar candidaturas, programas sustentáveis e reverter as tendências de retrocesso vistas em Copenhagen (que começou HOPEnhagen e terminou SHOPenhagen).
Enquanto isso, ao voltar do frio da Dinamarca para o calor do Recife, vejo nos jornais que o prefeito da capital pernambucana (um dos cem lugares que podem ser inundados com o aquecimento – Veja em: http://bit.ly/atM4b ), totalmente alheio, anuncia que a prioridade de 2010 é criar um pólo de empresas ligadas a petróleo e gás, integradas à refinaria de Suape – Veja em: http://bit.ly/4FmVfdou no Jornal do Commércio de hoje: “Costa Planeja o Recife na “rota da Petrobras”.
É inacreditável. Enquanto o mundo exige uma nova economia de baixo carbono os planos do Recife para o futuro estão indo no rumo oposto. E o prefeito escolheu o dia mais simbólico para anunciar isso (dia em que a humanidade lamenta o fracasso de Copenhagen). É incrível a falta de percepção e bom senso. Por estar ameaçada de submergir com a elevação do nível do mar, Recife deveria ser exemplo de projeto de cidade sustentável. E o prefeito, a exemplo dos líderes das ilhas Maldivas, Fiji e Tuvalu, deveria estar na Dinamarca pressionando por metas para conter o aquecimento em no máximo 1,5 graus (que foi o que defendemos com Marina Silva durante a COP15).
Como cidadão recifense, que deseja um outro tipo de futuro para a nossa cidade, apresento algumas sugestões sustentáveis ao prefeito:
1) Incentivar um pólo de indústria e comércio ciclístico – que ganharia força com a implantação de uma grande malha de ciclovias na cidade (integrada com o transporte público). Copenhagen é do tamanho do Recife e é exemplar nisso (veja foto). Recife precisa incluir ciclovias nos novos projetos de transporte: Corredor da Agamenon Magalhães, Viaduto Joana Bezerra e na Via Mangue (que, aliás deveria mudar de nome para “Desvia Mangue”, para proteger a nossa última reserva de manguezal – fundamental para escoamento das águas e preservação de espécies).
2) Criar incentivos para empresas sustentáveis (na área de energia, alimentos, conservação de água e outros serviços) e para aquelas que recolhem e reciclam seu lixo, em sistema de coleta reversa
3) Criar um Pólo de inovações para a sustentabilidade, no bairro do Recife antigo (e no centro), integrado ao Porto Digital (com incentivos para instalação de projetos demonstrativos de tecnologias verdes, vinculados à recuperação dos prédios históricos, usando a Lei Rouanet) – uma espécie de “Casa Cor Verde”, permanente
4) Estruturar um sistema eficiente de coleta seletiva de lixo e criar uma “bolsa digital de resíduos” onde as empresas cadastram o lixo que oferecem e os insumos que necessitam, possibilitando que o lixo de uma seja entregue diretamente à outra, sem desperdícios. Tudo via internet, com cruzamento automático de interesses. Isso economizaria os milhões de reais que a prefeitura gasta com a coleta e descarte pré-histórico do lixo urbano.
5) Apoiar a instalação de industrias comunitárias, para fabricação de produtos com base em material reciclável, gerando emprego e renda nos bairros periféricos e aproveitando o lixo reciclável.
6) Dinamizar e difundir o turismo e a cultura, que são grandes vocações do nosso Estado (não é à toa que, no aeroporto do Recife ou nos vídeos e impressos de divulgação de Pernambuco, não vemos máquinas de Suape, caldeiras industriais ou ferrragens da refinaria. Nas imagens para turista ver, destacam-se praias, serras, maracatus, são joão, carnaval. E o som que todos preferem ouvir não é o ronco de motores e sim a nossa música, uma das mais diversificadas e atraentes do planeta).
Ideias, não faltam para posicionar o Recife, Pernambuco e o Brasil na ponta da economia sustentável que tanto o mundo precisa. Meio ambiente não é “uma ameaça” (como disse a ministra Dilma Roussef em ato falho em Copenhagen – veja: http://bit.ly/4xwmYV ) Pelo contrário. É uma imensa oportunidade que devemos aproveitar, criando negócios, empregos e modos de viver muito mais saudáveis e duradouros. Que valem para hoje e para sempre.
Em vez de SAIR (submergir em mar de petróleo), Recife merece ENTRAR no século 21.




