
Francisco Nery Júnior
Estivemos reunidos com o secretário de educação do município no sábado, 08 de novembro. A pauta anunciada era, em resumo, a produção literária em Paulo Afonso e região. Presentes alguns escritores convidados.
Em se falando de escritores, inevitável a lembrança do professor Antônio Galdino recentemente falecido (desconfio que em breve será nome de escola, ele que tomou a si a tarefa de registrar os fatos históricos de Paulo Afonso).
Fui ao cemitério dias antes do Dia dos Mortos. Precisava ver Galdino para mais uma das nossas prosas; por telefone ou no seu escritório. Ali, dentro de poucos metros cúbicos, apertado e quente, estava Galdino – que não era mais Galdino. Mas era Galdino! Não falava mais. Não reagia. Mas, talvez, entendia. Afinal, esse negócio de tempo – passado, presente e futuro – é coisa da nossa cabeça limitada.
Que Galdino estava ali? Certamente restos mortais. Mas de Galdino. Como esquecer? Como não valorizar? Como não respeitar e considerar a espetacular engenharia seja lá do que for do Criador? Só sei, na minha pequenez, que é espetacular.

Mas Ele, o projetista, deu um jeito. Deixou a dica. Lá pendurado no galho da árvore, seco como o próprio galho, estava o casulo. Ali dentro, em pouquíssimo espaço cúbico, tinha estado uma lagarta. Asquerosa e feia, ela ali permaneceu por um pouco. Permaneceu por pequeno espaço de tempo, para que nós entendêssemos, na medida do possível, a ressurreição dos mortos.
É que dela, da lagarta que descrevemos, saiu, fulgurante, a borboleta tudo contrário à velha lagarta. Ela, a lagarta, ressuscitou em uma borboleta esvoaçante em direção ao céu.
Não acreditar é negar-se a si mesmo. Lá está o excepcional resultado de uma ressurreição! Lá o mistério tão apregoado pelos homens de fé. Lá está o poder que transcende ao nosso entendimento.
Então, Galdino não estava mais ali. Nós chamamos de despojos o que restou. Nós os contemplamos de fora apenas para manter a lembrança de alguém que já experimentou a espetacular retomada da vida.






