Em entrevista à Angiquinho, Luiza de Deus fala sobre a cura do pai e do avô, de quem desejou morte e do sonho revelador

A jovem Luiza de Deus, neta do prefeito Luiz de Deus (PSD) e filha do secretário municipal de Saúde, Luiz Humberto, enfrentou durante longos 44 dias o momento mais difícil de sua vida. O pai e o avô foram acometidos pela forma mais grave da covid-19. Felizmente, como ela mesma afirmou, o pior passou, ambos se recuperaram e muito em breve retornarão a exercer suas funções públicas no município de Paulo Afonso.

Na tarde dessa quinta-feira, 14 de janeiro, numa entrevista exclusiva de 46 minutos à rádio Angiquinho FM, Luiza relatou detalhes desde o início até a fase atual do tratamento contra o vírus, e do consequente drama vivenciado pelos gestores e pela família.

Ela agradeceu aos pauloafonsinos pelas orações, pelo carinho do povo, falou sobre o sistema de saúde pública de Paulo Afonso, não se omitiu quando questionada sobre a transferência do prefeito, do pai e de outros secretários que trocaram os hospitais da cidade para se tratar em unidades particulares em capitais.

Também respondeu se as aglomerações promovidas durante a campanha eleitoral do avô foram responsáveis pelas referidas contaminações. Revelou o sonho que lhe deu a certeza que seu pai não morreria da doença.

Mas, um dos pontos marcantes da entrevista foi de um desabafo espontâneo de Luiza de Deus. De acordo com suas declarações, pessoas desejaram a morte de seu pai e sem citar nomes mandou um recado para elas baseado numa oração de São Bento:

“Fico muito contente de ter recebido o bem, tanta luz, mas, só um recadinho que eu sempre tinha em mente e que eu não podia deixar de dar, que é minha essa parte. Que todas as pessoas que desejaram a morte ou o pior para o meu pai, eu só posso dizer que existe uma oração de São Bento que nos acompanhou ao longo desses dias que diz assim: ‘É o mal que me oferece, bebe tu mesmo teus venenos’, então que elas possam ser pessoas mais iluminadas, solidárias, justas porque só assim a gente consegue vencer e melhorar a vida de alguém. Assim como meu pai, todo mundo que está aí, ele sempre só deu o melhor, confesso que em alguns momentos é humanamente impossível fazer com que tudo fique perfeito, que sejam flores, mas eu posso garantir que ele deu o sangue dele, a vida dele e até a saúde dele foi fragilizada por estar tentando buscar o melhor pra todos vocês. Situações difíceis de pessoas que precisaram tanto de assistência, que estavam em angústia, ele só desejou o bem. Mas tudo será resolvido, tudo estará bem e eu tenho muita gratidão a Deus e a todos.”

Veja abaixo os outros momentos da entrevista 

“Aonde meu pai estivesse ele seria salvo”

“Foi a primeira vez que eu entrei na UTI (de Paulo Afonso), e de forma muito cautelosa e ao ver aquela estrutura, ao ver aquela equipe, ao mesmo tempo em que eu ficava triste em ver meu pai ali, meu lado público e de acreditar na melhora falava, poxa!, que bom que isso está acontecendo, que bom que tem esse suporte aqui para essas pessoas, e aí eu conversava com Henrique que é o médico responsável pela UTI, e ele muito otimista falava pra mim sobre os resultados que ele vinha tendo, o atendimento que ele vinha tendo, e eu ficava, mas a gente vai transferir o meu pai, e aí eu me perguntei muito ao longo desses dias porque a gente transferiu o meu pai, e vai além de questões públicas e políticas, de existir uma estrutura para atender ou não, eu acho que qualquer pessoa que está numa situação como essa, a do meu pai, se agravando a cada dia, uma progressão da doença surreal que a gente não estava acostumada nasce na gente o sentimento de que eu preciso fazer tudo o que eu posso de possível e impossível pra que tudo fique bem. Então, quando meu pai foi transferido para um hospital que não é o que ele está hoje, a gente não foi por uma ausência de suporte, a escolha de trazer o meu pai para Salvador, e depois a escolha de transferir ele de hospital é que com uma chuva de opiniões, só que hoje com o resultado que ele está tendo agora, eu percebo que existe uma divindade maior, uma força e eu acredito muito em Deus, e pelo que eu vivi hoje eu percebo que aonde meu pai estivesse ele seria salvo.”

Um dos motivos da transferência: a internação do pai no hospital de Paulo Afonso tiraria o lugar de outra pessoa

“Outra questão que me veio muito à tona como acalento para essa decisão é que isso demonstra como é desigual o nosso país, mas o meu pai ele tinha uma outra escolha de poder está em algum outro lugar, existem pessoas aí em Paulo Afonso que só tem uma única opção que é está no leito dessa cidade, e pra mim e para ele, com certeza está ocupando o lugar dessas pessoas só por ser quem ele é ou coisas do tipo tiraria a chance de outra pessoa ocupar que não tem outra opção, além dessa.”

Sinal de Deus através de um sonho que o pai não morreria

“Meu pai foi transferido aqui para Salvador no domingo dia 29 de novembro e na noite do sábado para o domingo eu tive um sonho, que eu não chamo de sonho, mas foi surreal, eu andava com muitas pessoas, e essas pessoas falavam assim – seu pai morreu, seu pai morreu, e eu olhava para todo mundo e dizia, – não, e continuava andando, não um não de negação, era de – eu sei que isso não vai acontecer, e eu dizia não, não, não, e eu andava, andava em direção ao meu pai. A sensação que eu tinha era que eu andava para encontrar o meu pai, e o sonho terminava eu encontrando com meu pai deitando numa cama, enquanto todos diziam que ele tinha morrido, havia uma chuva de flores amarelas atrás dele. Daí eu recebo a notícia que meu pai ia ser transferido depois disso, e ao longo de todo esse processo quando eu via as notícias sendo até desmotivadoras ao ponto dos médicos falarem assim, – vocês são esclarecidos o suficiente para saber que o seu pai pode não resistir, vocês entendem que a gente está fazendo de tudo, mas eu não posso garantir que o pior não vai acontecer, e nesse momento eu ficava extremamente abatida, e eu lembrava desse sonho que para mim teve um significado imenso, pra mim foi um sinal de Deus, dizendo assim, – vai ser muito difícil, muita gente dizer que o seu pai vai morrer, mas acredite que você um dia vai encontrar ele bem e Eu vou dar essa graça. Então, eu me mantive muito forte, muitas pessoas que estavam ao meu lado diziam, – poxa, você é uma pessoa fria porque não tinham me visto chorar ainda, e eu dizia, – não, não é porque eu seja fria, eu conto momentos que eu chorei, eu ficava ansiosa, mas eu me mantive muito firme porque era espiritual e muito maior, que realmente ele não ia morrer, ele iria vencer tudo isso.”

Luiz Humberto passou pelos estágios mais graves da doença

“A questão das diálises, elas realmente aconteceram, houve uma infecção generalizada, o comprometimento dos rins dele foram afetados, depois o coração foi algo muito sério. A sobrecarga de medicamentos faz com que os seus rins fiquem deficientes e a questão da transfusão, eu quero agradecer pela mobilização, foi incrível, me surpreendeu muito também, foi justamente porque durante o processo de diálise ocorreu a coagulação do sangue do meu pai na máquina, e aí fez com que ele perdesse sangue e aí ele precisava dessa transfusão, dessa reposição, e isso aconteceu mais de uma vez, para os médicos era assustador o que estava acontecendo.”

Aglomerações da campanha motivaram as contaminações?

“Isso foi algo que eu refletir bastante, eu quero dizer que desde o início, antes de começar o período eleitoral, e a gente está nessa pandemia, e eu sempre defendi que as eleições fossem adiadas, isso era um posicionamento meu, eu sempre imaginei que seria o mais sensato, mas não é a gente que decide, é uma decisão do Tribunal Superior e eles resolveram manter as eleições.

A campanha tinha regras de proteção, 100 pessoas, enfim, eu acredito, eu não sou ingênua ao ponto, em determinados momentos durante a campanha política tinha um número superior a 100 pessoas, eu tenho total convicção disso, mas isso foi errado desde o primórdio. O judiciário, eu acredito que pecou nesse ponto porque esse tipo de movimento, de situação é muito difícil de você controlar, – olha, eu só quero que venham 100 pessoas, quando você está com uma quantidade maior é muito difícil de conter.

Muita gente, durante esse processo de pandemia dizia, – eu não posso ficar em casa porque eu tenho que ir por trabalho, eu preciso, eu não tenho escolha, e essa eleição pra gente significava o nosso trabalho, a gente não podia cruzar os braços e não irmos pra rua e não trabalhar, então a gente sabia do risco que a gente estava correndo, de se contaminar por exemplo, não posso afirmar que foi durante uma das manifestações que todos foram contaminados, não tenho esse poder de afirmação, mas de fato a gente correu o risco, mas era preciso.”

Sobre a recuperação do avô, o prefeito Luiz de Deus

“O meu avô está bem, quando você falou que ele reagiu muito melhor que o meu pai, de fato foi muito surpreendente pra gente e até gratificante porque eu acredito que se o meu avô desenvolvesse a gravidade que o meu pai desenvolveu, a gente poderia não está com ele aqui hoje, seria muito ruim, muito triste, mas meu avô está bem, ele de fato se recuperou de uma forma muito mais tranquila.”

Luiz de Deus foi infectado duas vezes pela covid-19? Alguns não acreditam muito

“Esse era outro ponto que me incomodava bastante, eu cheguei a ver pessoas comentando que isso era uma mentira, que tinha inventado que ele contraiu uma primeira vez, eu cheguei a falar à época o quanto isso me incomodava. E isso agora da segunda vez que ele contraiu retornou esses mesmos comentários, e que queria muito que isso que estavam falando fosse verdade só que não é, e muito por coincidência, uma pessoa que é uma amiga minha, da minha idade, ela também contraiu pela segunda vez,  e ela falava muito sobre isso comigo, e como a segunda vez que ela pegou, havia trazido sintomas e consequências mais fortes do que a primeira, então passar por isso e ter esse susto duas vezes com meu avô foi algo que nos assustava, nos preocupava porque isso acontece. As pessoas não têm que ficar no discurso de que a gente vai mentir. Eu ouvi também, – ah, ele tá passeando em São Paulo, é muito triste lidar com isso.”

A permanência ou não de Luiz Humberto na secretaria de Saúde e as lições deixadas pela doença

“Depois do que a gente passou, muita coisa muda na nossa cabeça, na minha pelo menos mudou bastante e eu acredito que na do meu pai, a partir do momento que ele for retomando a normalidade eu acredito que algo de novo vai está ali presente. Mas, eu não posso afirmar que ele vai ou não continuar na pasta da Saúde ou até mesmo no Governo, não sei os ideias de vida que ele vai ter daqui pra frente, mas desde já eu queria adiantar que era uma coisa pessoal do meu pai, ele falava pra mim, falava em casa o quanto que assumir a pasta da Saúde estava sendo desgastante porque é do perfil dele conseguir resolver tudo, e como você bem sabe, no momento que ele assumiu aquela pasta, era um momento extremamente complicado, e o quanto meu pai teve que mudar o estilo de vida dele, mas ao tempo em que era desgastante, ele se orgulhava em trazer alguma melhora, então é muito complexo saber se ele vai querer continuar e enfrentar esse desafio mais uma vez.”

Entrevista a deixou mais aliviada

“Eu vou terminar essa entrevista muito mais aliviada, porque eu conseguir falar sobre coisas que estavam presentes em mim e poder compartilhar isso para as pessoas é a melhor forma de evoluir porque a gente pode ouvir o que as outras pessoas têm a nos dizer, e também falando um pouco de tudo que relatei, foi uma forma de atingir pessoas com as minhas palavras de superação, de otimismo, de fé, de verdade porque de fato tudo que eu falei aqui não foi preparado, não foi maquiado, não teve intenção nenhuma por trás além do que confortar pessoas e agradecer o que inúmeras pessoas fizeram por mim, pelo meu pai, elevaram seus pensamentos positivos pela recuperação dele, então eu sou muito grata a tudo isso que nos aconteceu. De fato ainda tem um caminho a percorrer, mas eu não tenho dúvidas que eu vou poder contar com as mesmas pessoas que me ajudaram até aqui, contar com Deus acima de tudo, e eu sou muito feliz com os dados positivos sobre a saúde de Paulo Afonso, sobre a assistência que Paulo Afonso está tendo. Eu quero agradecer muito em nome de Adonel que é a pessoa que está aí responsável por esse desafio imenso e a toda equipe que trabalha diariamente, que tá lá dando sangue e se arriscando, se sujeitando ás suas próprias vidas para salvar e melhorar a vida de outras pessoas.”