CRÔNICA – Sobre três caixões em câmara-ardente na Câmara de Vereadores de Paulo Afonso

Por Francisco Nery Júnior

Seria o desejo de alguém, apareceu na internet: três caixões [de defunto] em câmara-ardente na Câmara de Vereadores de Paulo Afonso.

Robson é professor de matemática do IFBA. Vínhamos de Salvador trazidos por Adnael, motorista dos melhores. A conversa era boa e, quero crer, agradável tanto para mim como para os dois; e mais para as duas senhoras companheiras de viagem. Para aliviar o tédio de uma viagem de 480 quilômetros, há que se conversar. A certa altura, o agora novo amigo, além de colega, questionou se havia alguma definição bíblica para Deus. Segundo a bíblia, respondi, Deus é amor.

Bem presente a magnitude de Deus nos nossos corações – na nossa mente ou nas nossas almas -, eu me lembrei de algo que tinha encontrado em Os Miseráveis de Victor Hugo enquanto revisava a minha leitura do livro. O autor dizia que “o único êxtase da vida é o êxtase do amor. O resto são bobagens passageiras. O ápice verdadeiro é o amor”.

Se eu desejo ver três caixões em câmara-ardente na nossa Câmara, creio não me aborrecer se alguém me definir como vingativo, bem presente na cabeça que vingança não tem lugar onde reina o amor.

De cara, de supetão, a inexistência de qualquer benefício para o vingativo. Logo depois, os males para a saúde geral causados pelo desejo de vingança. O ódio é, decididamente, bastante maléfico para quem o cultiva.

A pequena história com que encerramos nossa crônica de hoje também aparece em Os Miseráveis. A mulher estapeada pelo marido exige uma vingança à altura por parte do seu pai. Os argumentos são fortes. Talvez convincentes. Não faltou o olho por olho. Nem o dente por dente. “Em qual lado do rosto ele lhe bateu?”, perguntou o pai. “No lado esquerdo”, respondeu a filha. O pai, então, aplicou um tapa no rosto direito da filha logo acrescentando: “A vingança requerida está feita. Volte para casa e diga ao seu marido que ele esbofeteou a minha filha e eu, como vingança, esbofeteei a mulher dele”.

“E não se fala mais nisso”, acrescentou.