29 de março de 2024

Da periferia e filho de empregada é 1º em Direito na Ufba: “que a escola pública sinta-se representada”

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REDAÇÃO - PA4.COM.BR COM CORREIO DA BAHIA




Apesar de esperar dois anos pela sonhada vaga em uma universidade pública, o ex-aluno da rede estadual Lívio Pereira, 18 anos, não esperava ser o primeiro colocado na corrida por uma vaga no curso de Direito da Universidade Federal da Bahia (Ufba). “Eu atualizava o Sisu o tempo todo durante três dias. Corri gritando pela casa quando vi meu nome lá e minha mãe achou até que eu estivesse doido”, brinca o jovem, relembrando o dia da aprovação. Mas ser advogado é plano para o futuro. O que o estudante – morador da Boca do Rio, filho de uma empregada doméstica e de um motorista de ônibus – pretende agora é atualizar as séries que curte na Netflix.

 

Mesmo levando o 1º lugar numa das mais conceituadas faculdades de Direito do país, Lívio conta que nunca foi um aluno excelente ou o 1º da classe. A preocupação com os estudos, no entanto, chegou durante o 3º ano do ensino médio. “Com a pressão do Enem e do vestibular, eu comecei a estudar”, contou ao CORREIO, com bom humor característico.

 

O rapaz foi aluno do Colégio Estadual Anísio Teixeira, no bairro da Caixa D’Água, local em que despertou nele o sonho de seguir a carreira jurídica. “Eu fazia um curso técnico de segurança no trabalho e já pegava matérias específicas, que abordava conteúdos de Direito no primeiro ano. Foi aí que descobri que queria fazer o curso”, conta.

 

O rapaz diz que agradece aos professores da instituição pelo apoio com a escolha do curso. “Lembro que eles fizeram um teste vocacional pra mim, na época”, relembra.

 

Filho de empregada e motorista de ônibus, Lívio Pereira, 18 anos, ‘brocou’ no Enem (Foto: Reprodução/Facebook)

Representatividade

 

Negro, morador da periferia, filho do motorista de ônibus Antônio Carlos e da doméstica Cristina Pereira, Lívio é o primeiro da família a entrar em uma universidade pública.

 

Ele diz que o sustento da casa vem do salário do pai e que a mãe mal completou o ensino fundamental. “Eu agradeço muito a Deus porque não precisei trabalhar, como meus outros colegas. Mesmo sendo humilde, meus pais me deixaram ficar só estudando”, relata.

 

Por falar em colegas, Lívio quer que sua conquista sirva de exemplo para outros estudantes de colégios públicos.

 

“Quero que a galera de escola pública sinta-se representada”, disse ele, ao comentar seu resultado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que garantiu a vaga na faculdade. Segundo ele, muitos alunos da sua sala, inclusive, nem sabiam da existência da Ufba. “Quero que todos eles entrem na universidade”.

 

Batalha

 

Em 2016, Lívio prestou vestibular para Psicologia, mas não foi aprovado. Ele atribui o revés à falta de tempo para se dedicar completamente aos estudos. “Eu fazia o último ano de manhã, estudava de tarde e fazia um cursinho pré-vestibular à noite, no Barbalho”, explica. O curso, que na época custava R$ 150, era garantido por uma boa fatia do salário do pai.

 

Foi no ano seguinte que ele resolveu “se isolar” para estudar. O jovem saiu de Salvador e foi passar a maior parte do tempo na Ilha de Itaparica, em uma casa de veraneio da família.

 

Técnica de estudo

 

Como dessa vez o jovem estava sozinho, sem ajuda do cursinho, criou uma técnica diferenciada que funcionava à base de frases de incentivo. Às 6h30, por exemplo, o despertador tocava com as mensagens: “Dormir não lhe torna advogado” ou “Acorda, espartano!”

 

Meia hora depois era hora do café. Das 7h às 12h, o jovem estudava os conteúdos relacionados à área de Humanas. No almoço, Lívio ainda assistia vídeo-aulas para “não perder o foco”. De tarde era a hora de estudar Exatas e, de noite, era hora de se debruçar sobre a resolução de questões. “Fiz todas as provas do Enem, (aplicadas) de 2009 até 2017”, conta orgulhoso. Depois, ele começou a resolver provas de universidades de outras regiões, como a Fuvest (São Paulo).

 

Outra técnica adotada pelo rapaz foi criar um “cantinho do guerreiro”, um espaço que era usado apenas como local de estudos.

 

Diferenciado

 

No rolê (convívio dos amigos), Lívio é conhecido como Coroa. O apelido, segundo ele, veio por causa do seu gosto por cantores antigos, como Renato Russo, da Legião Urbana.

 

“Os meus amigos gostam de pagode, mas eu curto rock brasileiro”, conta.

 

O jovem também tem paixão pelos livros. A obra Revolução do Bichos, de George Orwell, é uma das suas prediletas. “Adoro ler, ver filmes e tocar violão”, resume o rapaz, que abre a sua caminhada na Faculdade de Direito da Ufba no dia 2 de abril.

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COMENTÁRIOS

Comentários 8

  1. Thiago says:

    Quando se tem um objetivo na mente, fica mais fácil conseguir o que quer, que Deus o abençoe na sua jornada e alcance os seu objetivos.

  2. Érica Cavalcante says:

    Quanto orguho pra esses pais 🙂

  3. Alegre por ver jovem trilhando por bons caminhos says:

    Deus te abençoe menino, e que seja só o começo de muitas alegrias para você e família

  4. ERICA says:

    Vejam que ele tem um diferencial, ele LÊ… Isso acrescente e abre as perspectivas pra ele. Além do gosto musical kkkkkkk, um jovem na idade dele ouvindo Legião, significa que ele tem boa capacidade de interpretação, o cérebro não está limitado no “rala a tcheca no chão”. PARABÉNS AO JOVEM.

  5. Orgulho says:

    Jesus abençoe…

  6. Leidiãne says:

    escolheu batalhar e conseguir um lugar ao sol ao invés de ‘mais um coitadinho que não tem perspectiva e acabou se tornando uma vítima da sociedade’. Parabéns rapaz, e os melhores com certeza são aqueles que mais batalharam pra chegar onde chegou.

  7. O FÍSICO! says:

    pois e! o cara quando quer estudar faz isso é quando não quer fica perturbando vida alheia com os CABELOS DO SUVACO FINO quem o povo de Alagoas tem OS CABELOS DO SUVACO grosso….

  8. Jônata says:

    Parabéns rapaz…

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